Nos encontramos pra tomar café da manhã numa padaria por
que......bem, nós dois amamos padaria. Eu fui de pão com manteiga sem chapa com
café preto. Ele, mais disposto, pediu coxinha, vitamina e uma média.
Ele me falou sobre como estavam as coisas na família. Gosto
muito da mãe dele, pessoa forte e decidida, o criou com muito carinho, deu um
sacode nas adversidades que não foram poucas.
Falamos sobre nossas mudanças de visual, ele muito mais
dedicado a isso, eu acordando pra algumas coisas só agora.
Daí ele me mostrou umas fotos e vídeos de outra paixão que
temos em comum: cachorros. Ele já teve vários vira-latas (street dog, como ele
os chama) mas agora tava com um husqui siberiano maravilindo. O companheirismo,
alegria e esperteza dos caninos cativa-nos de uma forma quase mágica.
Quando ele me falou de seus projetos musicais, ouvi com
atenção porque mesmo não sendo da minha praia, suas canções têm potencial se
chegarem aos ouvidos certos. Disse o que eu achava de alguns vídeos onde ele
canta suas músicas tocando violão. Dei
uns toques sobre captação, montagem de acordes, arranjo vocal, etc. Tomara que
tenha ajudado de alguma forma.
Daí divagamos sobre mais outro tópico que também nos une:
Chico Buarque. Fizemos um “top 10” ali
na hora e comparamos pra ver o que batia. “Geni e o Zepelin” foi top 3 pra mim
e top 5 pra ele!
Já era quase hora do almoço e marcamos de continuar a falar-nos,
mesmo que por Skype, sobre a vida, outros assuntos, quem sabe até sobre Física,
assunto sobre o qual, ele, mezzo gênio matemático, pode me ensinar muito. Eu,
mesmo idolatrando salve-salve a Física e a Astronomia, só as persigo através de
livros de divulgação científica. Ele pode ler os artigos, ou pelo menos a parte
matemática dos artigos, com chance muito maior de os entender do que eu. Acho
isso lindo. Ele é fã do Tesla.
Como a correria não para, a gente teve que se separar, eu
indo pra dar aulas e ele pra ter aula na facul de engenharia elétrica, último
ano.
Detalhe: dentro da concepção polarizada que toma conta das
discussões políticas atuais, ele seria um “coxinha” e eu um “petralha”.
Imprecisas essas classificações, claro. A bem da verdade,
ainda sou filiado ao PSTU. Me filiei pra evitar que, devido aos números
insuficientes de filiados, cassassem o registro do partido, lá nos anos 90.
Hoje não tenho mais uma ligação com a extrema esquerda por vários motivos que
não cabem dizer aqui. Votei no Lula 5 vezes e na Dilma 2 mas espero
sinceramente que eles paguem caro pelos erros que cometeram. Honestamente, não
acho que dê pra dizer que eu seja um “petralha”.
Ele, por sua vez, se declara um liberal. Diz que simplesmente
não aceita que ninguém diga a ele como viver. Quer o chamado estado mínimo,
privatizações e meritocracia mas é a favor da liberalização das drogas,
descriminalização do aborto e da eutanásia.
Por que eu escrevi este texto num espaço destinado a música
autoral?
Porque, pra mim, política envolve tudo. E quando eu digo tudo
estou falando da escolha da marca da manteiga no supermercado, a briga com o
flanelinha pra não pagar os 10 real, uma viagem, o livro que se lê ou a música
que se ouve. Tudo passa por, está enviesado por, é influenciado (ou influencia)
por, cresce ou some por causa, em última análise, de política.
E pra quem faz música, isso é ainda mais fundamental. O
compor é um ato político, o se apresentar é um ato político, o filmar, o
roteirizar, o ensaiar.....Tudo é político, tudo é política.
Mas a política acontece na relação entre pessoas. Que são
complexas. Que não podem ser rotuladas simplesmente por uma única palavra.
Como é o caso que descrevi acima.
Ou seja: eu sei bem o que eu quero em política. Se você
também sabe mas pensa de forma diametralmente oposta a mim.......mesmo assim o
contato ainda pode existir.
Procuremos, o quanto possível, o que nos une.
A música, por exemplo.
“Come as you are.......”
Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam.
Adeus.