segunda-feira, 19 de junho de 2017

NÃO EXISTE MÚSICA RUIM. O QUE VOCÊ CHAMA DE MÚSICA RUIM É SÓ MÚSICA QUE VOCÊ NÃO GOSTA.

Agora que (provavelmente) chamei sua atenção com o título deste texto, resumo em 3 frases os textos das semanas anteriores:

1) Há formas de expressão musical que estão inequivocamente acabando.
2) Diferentemente de outras épocas, o fim dessas expressões não tem nada de natural. Há causas claramente discerníveis por trás desse fenômeno.

A relação que proponho entre estas 3 frases e o título deste texto é a seguinte:

Muitos amigos, musicistas ou não, adotam uma atitude elitista e preconceituosa ao taxar certos tipos de músicas de "música ruim". Usam outras palavras pra categorizar as ditas músicas "ruins": baixaria, ridícula, burra, pobre, chata, limitada, entediante, ignorante, e, quando se consideram condescendentes, usam o termo desinteressante.

Então, sou obrigado a dar uma parada técnica nos textos pra responder a esse tipo de observação. Quero com isso evitar que confundam o que eu estou tentando defender nestas postagens com algum possível posicionamento elitista de minha parte.

Fazendo jogo rápido, vamos em tópicos porque acho que pode ficar mais interessante.

- "Por que você acha que Wesley Safadão é ruim?"
- "Ah, olha a estrutura harmônica da música! Que coisa pobre!!!"
Tem música de Phillip Glass (e muitos outros compositores minimalistas além de exemplo em vários outros gêneros, estilos e compositores) que usa os mesmos poucos acordes por seções inteiras da música. Dificilmente você vai achar algum crítico musical que ousaria descrever essas músicas como pobres porque eles sabem que esse quesito - complexidade harmônica - por si só não pode ser usada como argumento pra determinar a qualidade de uma obra."

- "Por que você acha o sertanejo universitário ruim?"
- "Detesto essa indigência de pulsação, massacrando sempre a mesma batida....!"
Pobreza rítmica no sentido de células em repetição contínua? Meu amigo, você dança? Se sim, me diz como dançar uma música que muda de signo de compasso o tempo todo. E até se você der uma olhada nas batidas desse sertanejo novo, eles são variações de coisas já estabelecidas no dicionário de ritmos brasileiros, são invenções populares que estão sendo aproveitadas (apropriadas) pelas duplas modernas.
E tem mais: shows que visam pôr o povo pra bailar tem que ser assim mesmo: solta o play da banda e repete por horas ritmos, batidas, pancadas. 

- "A alegada indigência melódica do rap te escandaliza?"
- ..............(cara de nojo)!!!
Cara, rap é uma sigla para rhythm and poetry. Ou seja, é algo que surgiu pra ser uma declamação de letra (poesia) sobre uma base rítmica qualquer. Nesse sentido, nem pode ser considerada música. Pra mim é algo até melhor em alguns aspectos. Se liga na mensagem. Entenda o que está por trás do discurso. E, claro, a relação entre a mensagem e a base sonora instrumental.
Isso sem falar na importância social do rap. No século XXII, pra nos entender melhor, historiadores irão se debruçar sobre o rap, não sobre outros estilos.

"E as letras de corno, Wton? Vai dizer que não te incomoda um estilo musical que só fala de chifronésio....."
Meu amigo, você já traduziu "Love of my life" do Queen? E o repertório romântico do rock? Do blues? Da MPB? Das óperas? De Shakespeare? Acho que se alguém se incomoda muito com alguma coisa pode estar fugindo exatamente dessa coisa. As letras românticas sempre versam sobre as mesmas coisas porque, no fundo, o sentido final desses mesmos sentimentos será dado por cada pessoa individualmente (ou pelo casal, no caso).
Se é música romântica ou é uma ode ao amor e ao seu amado ou é sobre dor de cotovelo pelo amor perdido. 

"Mas essas músicas que eu tô chamando de ruins, W, são muito parecidas entre si. Parece tudo cópia uma da outra", falou um amigo que detesta Kate Perry.
Bem, dou aula pra adolescentes e por isso tenho que ficar meio que ligado nas canções que estão acontecendo. Dessa forma, do mesmo jeito que alguém que só ouve sertanejo universitário acha que Caetano, Gil, Chico e Edu Lobo é tudo igual, tem pessoas que acham que as cantoras ouvidas pelos adolescentes também são todas iguais. 
Olha, senta aqui e ouve comigo Pink, Perry, Cat Power, Ariana e Rihana, uma música de cada uma delas e depois a gente vai elencar o abismo que as separa. Mas só percebe esse abismo quem está com os olhos (ouvidos) abertos ("quem tem ouvidos para ouvir, ouça......") 
Você deve estar confundindo sonoridade do pop atual, que acaba ficando realmente massificada devido ao uso das mesmas técnicas de estúdio e equipamentos, com cópia mútua de identidade sonora pelos ídolos teen.

Olha, eu poderia continuar escrevendo, vendo item por item, sobre todos os argumentos que levantam pra dizer que Beethoven é melhor que Nego do Boréu. Mas espero que tenha ficado claro que o assunto não pode ser colocado nesses termos. Música é algo que vai muito além do som. É um fenômeno humano complexo e abrangente. Para sua apreciação honesta, têm-se que levar em conta coisa tais como:
- quem está fazendo a música
- por quê ela está sendo feita dessa forma
- quem a ouve
- qual o significado que ela tem na cabeça do público a que ela se destina, etc. etc. etc.

Mas eu não poderia deixar de falar sobre um último aspecto que me atinge de forma especial, talvez por causa de minha formação cristã tradicional que tentou orientar minha visão de mundo numa direção que, hoje vejo, me era muito prejudicial.

Com vocês, o último (e tenebroso) argumento que usam pra classificar uma música de ruim:

"Que coisa horrível! Que música suja (torpe, lasciva, inadequada, explícita, sensual, apelativa etc., etc. etc.)! Música tem que ser edificante (profunda, delicada, agradável, etc. etc. etc.)!"
Sim, senhoras e senhores, estamos falando de nosso querido FUNK (carioca). Deixa eu fazer a principal pergunta, antes de qualquer outra coisa:
- Por que, cargas d´água, uma música não pode falar sobre sexo? Me dê um argumento minimamente razoável que justifique, dentro de uma sociedade democrática e plural, que músicos não possam compor e pessoas não possam cantar e dançar músicas (ou mesmo gênero musical) que falem aberta e escancaradamente sobre SEXO?
Os argumentos que ouço são inconsistentes justamente por não admitirem o que pra mim é o cerne da questão: o moralismo. Deixam no ar aquela sensação de um ambiente social sorrateira e progressivamente influenciado por um fundamentalismo cristão que, paulatinamente vem tentando pautar as discussões culturais a fim de emplacar uma forma de ver abertamente puritana, moralista, assexuada, que tem vergonha do corpo, da sensualidade, do prazer. Da vida mesmo.
O pior de tudo é que o rock, no início, também era considerado lascivo. E hoje tem roqueiro que acusa o funk da mesma coisa!
O pior de tudo são as pessoas que optam por não ouvir músicas com forte conteúdo sensual E QUEREM QUE NINGUÉM OUÇA! Ou seja: elas são o padrão pra tudo! Se ela não gosta, claro que é ruim e  portanto tem que ser perseguido, proibido, execrado.
O pior de tudo é a pessoa que critica sem conhecer toda a realidade sobre a cultura funk, sobre os bailes e shows, sem conversar com quem curte, sem tentar ver o mundo por outros olhos pra talvez conseguir entender as motivações que leva milhões de  brasileiros a ouvir e dançar esse estilo!

Vamos resumir o textão?
Sejamos minimamente decentes em admitir que as músicas de que gostamos são importantes pra nós porque refletem nossos valores, sonhos, aspirações, visões de mundo e ideais. Isso vale pra todas as outras pessoas, não importa o quão diferentes sejam de nós. E é isso. Ponto final, sem comparações de valor, ok?

Não se perca! Cada um dos três textos podem ser resumidos assim:

1) Há formas de expressão musical que estão inequivocamente acabando.
2) Diferentemente de outras épocas, o fim dessas expressões não tem nada de natural, Há causas claramente discerníveis por trás desse fenômeno.
3) Não existe música ruim. O que você chama de música ruim é só música que você não gosta.


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TEM MUITO MAIS DE ONDE VEIO ESSA....

Semana passada escrevi que alguns tipos de música estão acabando: erudita, jazz e blues, por exemplo.

Hoje quero simplesmente discorrer sobre uma das primeiras objeções que se pode fazer a respeito dessa minha apreensão em relação a conclusão acima citada.

O primeiro bom argumento que ouvi contra essa minha preocupação pode ser resumido assim:

"Fique tranquilo: nada é eterno. Na natureza, tudo vem, fica um tempo e se vai. Não é diferente na cultura, nas artes, na sociedade. Formas de criar, interações sociais, usos, costumes, valores estéticos, tudo passa."Tudo muda o tempo todo no mundo", como já dizia o filósofo Lulu Santos. Aliás, é bom que tudo passe para que o novo venha já que TEM MUITO MAIS DE ONDE VEIO ESSA."

Sim, essas afirmações carregam uma verdade em si: mais de 99% dos animais que existiram no planeta se extinguiram. Milhares de línguas sumiram, movimentos culturais se sucederam. Até a atmosfera terrestre se altera sendo que, nos últimos anos, drasticamente.

Mas....

Mas apesar de concordar com essa aparente inevitabilidade, intrinsecamente presente em todas as ações humanas, em minha opinião, hoje as mudanças se dão por razões que não podemos atribuir somente a um fluir natural dos acontecimentos.

Peguemos como exemplo as extinções animais. Apesar do número de espécies que já existiram e que acabaram ser quase a totalidade das espécies que passaram pela Terra, há algo de muito diferente no que se refere à velocidade com que as extinções ocorrem hoje. Desde que os seres humanos começaram a viver em sociedades industriais e o crescimento econômico se deu de forma exponencial, os habitats animais simplesmente foram aniquilados numa velocidade nunca antes vista na história. Hoje em dia, as extinções não se dão mais na velocidade que se dava - algumas espécies por século. Hoje classes inteiras de bichos somem também em velocidade industrial.

E a atmosfera tem se aquecido. Sim, isso já aconteceu antes, em outras eras históricas. Mas nada comparado com o que está acontecendo agora, fruto inequívoco da ação humana

O mesmo está acontecendo na cultura. Nas artes. E na música.

Não há um lento mover normal, orgânico, tradicional, histórico que faz com que estilos, gêneros, escolas, movimentos sejam progressivamente esquecidos. O que há hoje é uma brutal e evidente ação social, econômica, filosófica e política em direção a uma situação onde não haverá espaço para a música erudita, o jazz e o blues, dentre outros tipos de som.

Olha, falando claramente, se algo tiver que acabar, que acabe. Se as causas são naturais ou incontroláveis, não vamos ficar chorando as mágoas de um tempo onde havia algo que nos é precioso mas que hoje já não é mais valorizado.

O que eu estou dizendo é: há coisas que estão morrendo não por causas naturais. Elas estão sumindo por causa muito bem pensadas, muito bem entendíveis, desde que racionalmente detectadas e estudadas.

Quais serão essas causas? Há alguém, um grupo, uma ideologia, por trás dessas causas?

É o que veremos no próximo emocionante (espero) capítulo de "O futuro (?) da música autoral".

Por enquanto, resumo estes dois textos assim:

1) Há formas de expressão musical que estão inequivocamente acabando.
2) Diferentemente de outras épocas, o fim dessas expressões não tem nada de natural, Há causas claramente discerníveis por trás desse fenômeno.

E o resumo do texto da semana que vem seria (extremamente provocativo, eu sei):

NÃO HÁ MÚSICA RUIM. O QUE VOCÊ CHAMA DE MÚSICA RUIM É SÓ MÚSICA QUE VOCÊ NÃO GOSTA.

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quarta-feira, 14 de junho de 2017

O CD "O CULTO À CIÊNCIA" COMENTADO FAIXA A FAIXA - FAIXA 9 - A CANÇÃO DO HOMEM

Lançarei um texto sobre cada uma das canções de meu primeiro CD, "O Culto à Ciência". Nesses textos contarei detalhes sobre o processo de composição e gravação além de curiosidades sobre o que me inspirou a escrevê-las.

Junto com esses textos, lançarei, a cada semana, um video lyrics em meu canal no youtube (procure por Wton) para que você acompanhe a música lendo a letra depois de ler o texto sobre ela. Experiência mais direta que isso só mesmo vendo o show. Em breve os convidarei para isso também.

A canção do homem

Ganhei uma nota de 50 "alguma coisa" de meu pai quando eu era adolescente. Não me lembro se era cruzado, cruzeiro, cruzeiro novo....na década de 80 a moeda no país mudou de nome várias vezes.
Através dessa nota conheci essa poesia de Drumond. Naquela época, meus 14, 15 anos, eu não lia muita poesia. As que me caíam na mão eram quase sempre poemas cristãos horrorosos, sempre com o objetivo de criar consciência moral. Ou seja: poesia com objetivo moral...........bem,.......... deixa eu ver............tô fora.
Esses versos de Drumond realmente mexeram comigo. Elas conseguiram me fazer ver que era possível trabalhar com as palavras pra que elas se orientassem com nossos sentimentos mais íntimos e bonitos. Drumond pra mim parece ser exatamente isso - um artesão das palavras. Ele as monta, as liga, as sequencia de um jeito que a idéia do verso seja carregada com inúmeras possibilidades de tom, de dinâmica, de formas.
Nessa música eu reconheço o que é o foco central de todo o CD, no que ele tem a dizer sobre as relações humanas - o verso "dois carinhos se procuram" resume tudo o que eu poderia dizer sobre esta "obra" e sua ambição quanto ao contato com o outro. Se dois a dois, na audição solitária, num show, em vídeos na net ou de qualquer outra forma, o contato acontecer.....bem, foram dois carinhos que se procuraram. Era o que foi proposto e portanto, fico feliz.
E, musicalmente, a exemplo do que aconteceu com a música "Tu", tenho que confessar que não me foi nem um pouco complicada a construção da linha melódica dessa canção. Novamente me assombrou o fenômeno das sílabas parecerem me ditar as notas a serem atribuídas a cada uma delas.
Esta é a música mais antiga do CD, feita quando eu tinha lá pros meus 19 anos.
O violão usado na gravação é um Godin espetacular. Quando o pedi emprestado para a gravação, Marcelo Schulzze o liberou na hora mas com um detalhe: eu tive que salvar todo o projeto, abrir no computador dele e gravar lá mesmo. O violão era muito valioso para sair do estúdio!!! E com minha técnica maravilhosa, tive que gravar alguns trechos em dois canais, um para os arpejos dos acordes e outro só para os baixos porque não conseguia fazer os dois juntos!!!  Que falta faz um Andrés de vez em sempre...
O solo, por incrível que pareça, foi tocado por mim. Tem alguns trechos muito difíceis pra estas mãozinhas que não estudam há mais de 25 anos mas, com muita paciência, remendos e takes infindáveis, acabou ficando bom.
Se vocês prestarem atenção, toda a voz tem uma certa ambiência, menos a primeira frase da música. É que quase perto do final da mixagem ficou claro que na captação dessa frase havia algum problema e então tive que gravar de novo. Mas, como sabe quem grava domesticamente e até em grandes estúdios, ao captar a voz de uma música, tente fazer no mesmo dia ou em dias seguidos. Obter a mesma configuração acústica e acertos de equipamento muito tempo depois é quase impossível. Mas foi um remendo feito com muito cuidado e está quase imperceptível.

Vocês notam que a palavra "homem" aparece muito no CD? Talvez, analisando psicanaliticamente o projeto, eu o tenho usado para perseguir definições sobre minha própria personalidade, meu lugar no mundo. Neste mundo e no mundo dos outros.  As grandes definições da vida: o que é estar ser humano nestes momentos na Terra? O que sobra depois da peneira das experiências que vivemos? Resta o quê de nós depois de nos transformarmos quando convivemos com os outros, com nós mesmos, nossos desejos, preocupações, dores e êxtases? É por aí que as coisas estavam quando intitulei a música como "A canção do homem". A força revolucionária da poesia e da música nos levando a buscar o nosso mais profundo reconhecimento íntimo - esse é um bom resumo da poesia. E do CD. E da vida. Da minha.

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segunda-feira, 12 de junho de 2017

CORRA ANTES QUE ACABE!

Este não é um texto sobre o fim da esperança.
Vai parecer que é, mas não é.
É o primeiro de um grupo de textos onde pretendo dar uma visão pessoal sobre como vejo a situação da música no país e até no mundo.
Pretensioso? Sim, reconheço. Mas é só minha opinião. A confronte com outras pra formar a sua.
Eu faço isso. Minhas opiniões foram formadas assim.

Começo citando dados. Ou seja, o que cito nas frases seguintes não é minha opinião. É um simples reconhecimento de fatos.

A música erudita está acabando.
"Bem", você pode dizer, "como você pode afirmar isso? No que você se baseia pra dizer isso?"
Eu me baseio em números frios que vem de pesquisas de mercado: o número de concertos da popularmente chamada música clássica está diminuindo ano a ano. O número de lançamentos fonográficos também. O número de músicos especializados em executar o repertório sinfônico e de câmara tem despencado, a formação de maestros está rallentando. Os locais para apresentação do repertório da música já chamada de culta (música séria, racional, total, etc. etc. etc. - logo se vê que provavelmente esses nomes foram dados pelos próprios envolvidos com ela, não é mesmo?) estão simplesmente derretendo.

E é isso. Tá acabando. A continuarmos nessa progressão, em 5 décadas, quem quiser ouvir uma sinfonia de Beethoven vai ter que viajar muito e assim mesmo só conseguirá alcançar seu objetivo em algumas datas específicas. Os concertos serão caros e atenderão a uma minoria financeira e culturalmente abastada.

Alguns dirão que é alarmismo meu (como diziam lá nos anos 80 que era alarmismo quando eu vaticinava que o protestantismo iria dominar o país....).
Respondo a isso simplesmente dizendo que contra números não há discussão.Tá diminuindo e vai acabar. Pelo menos como área comercialmente viável de consumo mercadológico.

Outros dirão que a música erudita como a conhecemos é que vai acabar, irá dar lugar a outros tipos de música.
Ok: então me diga qual ou quais são esses tipo de música que podem ocupar o espaço dos erudas. Há algo no horizonte mostrando isso? Há algo de fundamentalmente novo e com características minimamente comuns aos da música clássica para lhe tomar o lugar?
Se eu estiver tão por fora de tudo assim e não esteja sabendo desse admirável mundo novo de sons, por favor, ilumine minha ignorância.

Ah, o blues também vai acabar. Pelos mesmos motivos, seguindo o mesmo roteiro: menos shows, menos gravações, menos artistas, menos mídia, menos público.
O rock progressivo já foi pelo mesmo caminho.
O jazz......desculpe, não vou segurar o trocadilho: aqui jaz.

Me lembro que quando me mudei pra Campinas, em 1988, fiquei eufórico em ter tantas opções de bares e casas noturnas onde eu poderia ouvir desde rock, pop, jazz até música instrumental, concertos, blues. Hoje, saia pela noite e me diga o que você se encontra. E saia antes das 22 horas, claro.....

Um professor da UNICAMP, em 2014, ao ouvir meu CD, me disse na lata:
"Pega seu CD e saia de Campinas. Vá pra Curitiba! Lá tem 11 teatros italianos. Campinas tem 2 e ruins (isso na época em que ele me falou isso). Campinas é só shopping e sertanejo."

Por quê? O que aconteceu ou está acontecendo?

Não perca o próximo emocionante capítulo de "Onde é que eu fui amarrar meu burro" ou "O que é que eu faço agora?" ou ainda "Corra antes que acabe".


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quarta-feira, 7 de junho de 2017

O CD "O CULTO À CIÊNCIA" COMENTADO FAIXA A FAIXA - FAIXA 8 - TU

Lançarei um texto sobre cada uma das canções de meu primeiro CD, "O Culto à Ciência". Nesses textos contarei detalhes sobre o processo de composição e gravação além de curiosidades sobre o que me inspirou a escrevê-las.

Junto com esses textos, lançarei, a cada semana, um video lyrics em meu canal no youtube (procure por Wton) para que você acompanhe a música lendo a letra depois de ler o texto sobre ela. Experiência mais direta que isso só mesmo vendo o show. Em breve os convidarei para isso também.


Tu

Quando fiz aulas de canto com Suzel Cabral, conheci um outro aluno dela que havia vencido um concurso de poesias da prefeitura da Campinas. O prêmio era a edição de um livro com suas poesias e as dos outros vencedores do concurso.
Nesse livro li os poemas de Ary de Souza Ribeiro Júnior.
A poesia que musiquei, sem título, que acabei chamando de "Tu", teve a peculiaridade de parecer me ditar aos ouvidos cada nota que deveria ir em cada sílaba. Sério: não foi nada difícil tecer a linha melódica, ela aconteceu como que automaticamente, de primeira. Acho isso até estranho. Um amigo me disse que ela me foi ditada espiritualmente por entidades compositoras. Eu tenho uma explicação não espiritualista mas nem por isso menos fantástica: quando você se deixa fluir pelas imagens, sentidos, sentimentos, sonoridades e sensações que maravilhosas palavras poéticas incitam, você experimenta a sensação de não ser o dono do que foi criado. Você acha que aquilo vem do universo, do cosmo. Perde-se um pouco a noção do ego controlando tudo.
 Acho que os poetas são poucos neste mundo. Mas experiências com o sentir e o fazer poético é algo bem mais trivial. Todos deveriam experimentá-lo.
Ary de Souza Ribeiro Júnior tem outras poesias lindas. Acho que ele deveria divulgá-las melhor, mesmo que fosse apenas on-line. Sua vida tomou outras direções e não sei se ele continua a escrever.
Nesta música, infelizmente, se encontra o maior furo técnico, furo de gravação, do CD. Anote aí: se você for gravar algo, tente não colocar nada entre o microfone e a placa de áudio do computador. Quanto mais periféricos houver entre o microfone (condensador) e a placa, mais ruído se associa ao sinal. Eu sabia disso mas marquei bobeira e passei o microfone pelo pré-amplificador E pela mesa de som. Não sei bem porque cometi esse erro mas o resultado é que o canal da voz veio com muito ruído. Deu um trabalhão pra limpar o que fosse possível. O técnico de mixagem e masterização, Marcelo Cecchi, reclamou bastante. Ele me disse que esse problema era o mais grave da gravação e que dificilmente daria pra escondê-lo. Pra nossa surpresa, até agora ninguém o notou. Ou se notou, não falou nada. Porém, apesar desse problema, as interpretações vocais dos versos estão bem legais, passaram o calor que eu pretendia.
Musicalmente, essa canção, em minha opinião, nunca foi devidamente valorizada. Acho que o encontro de palavra, linha melódica, harmonia, arranjo e interpretação atingiram um patamar especial, um espaço etéreo no qual saborear uma canção é algo que pode ocupar muito tempo da vida de cada um. Mesmo que dure só 3 minutos.

 Adoraria crer que um dia mais gente viesse a conhecer pois beleza, apesar de ser algo que está sobrando neste mundo, nem sempre é procurada deligentemente.
                  
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terça-feira, 6 de junho de 2017

O CD "O CULTO À CIÊNCIA" COMENTADO FAIXA A FAIXA - FAIXA 7 - TÃO PERTO, TÃO LONGE

Lançarei um texto sobre cada uma das canções de meu primeiro CD, "O Culto à Ciência". Nesses textos contarei detalhes sobre o processo de composição e gravação além de curiosidades sobre o que me inspirou a escrevê-las.

Junto com esses textos, lançarei, a cada semana, um video lyrics em meu canal no youtube (procure por Wton) para que você acompanhe a música lendo a letra depois de ler o texto sobre ela. Experiência mais direta que isso só mesmo vendo o show. Em breve os convidarei para isso também.


Tão perto, tão longe

Outro cruzamento de palavras e significados vindos de áreas culturais e locais geográficos extremamente distantes entre si. De um lado a música de Carlos Gomes, "Quem sabe". Do outro, Wim Wenders/U2,"Faraway, so close", filme e música. Elas guardam um espelhamento de significados que me deixaram intrigado desde que as conheci.
Acho que a cabeça do artista é como uma panela: vai jogando coisas lá, vai juntando, vai cozinhando. Uma hora o prato vai estar pronto.
A transformação sonora da música de Carlos Gomes em áudio que lembra a sonoridade de vinis antigos, apesar de recurso recorrente, era necessária pra salientar as diferenças temporais e estéticas entre as duas canções. Cantar essa música foi dificílimo, um verdadeiro ato de coragem. Acho que levei umas 2 semanas de várias horas por dia pra atingir o resultado pretendido.
Já a 2.a canção foi algo bem legal de se fazer. Gosto muito dela porque ela descreve bem, pra mim, as idas e vindas da relação entre as pessoas. Bem, pelo menos entre eu e as pessoas.
Contatos e distâncias: esses dois extremos são o que movem as relações humanas. O duro é quem nem sempre queremos/precisamos/podemos ter o contato. Mais difícil ainda é quando  o outro o necessita com urgência. E as distâncias (leia distância como solidão), tão vital pra vida produtiva, não são bem vistas neste nosso mundo. Raramente encontro alguém que se dê bem em viver a solidão. Até suportam ficar um ou dois dias sozinhos. Mais que isso e já bate aquela sensação de desespero que só se resolve no encontro com o outro. Qualquer outro. E é esse "qualquer" que fode tudo.
Sempre me dei bem em ficar sozinho, mesmo por longos períodos. E por longos períodos digo semanas e até mesmo meses. Claro, me afundo em livros, músicas, TV, alguma atividade que meu corpo requeira (quase sempre alongamento) e por aí vai. Com a vinda da internet então, chego a pensar que poderia viver numa ilha deserta pra sempre. A necessidade do outro viria, claro, mais cedo ou mais tarde. Mas eu não feneceria facilmente apenas por ficar sem ninguém por perto. Eu sei, isso soa como bobagem até porque não me é possível (não é possível pra ninguém!) fazer o teste e descobrir o quanto aguentaria ficar sozinho sem enlouquecer.
E, pra complicar tudo, faço tudo devagar. Lentamente. Muito lento. Amigos, parentes, gente de minha vida tem seus próprios ritmos. Todos mais rápidos que o meu. Daí o conflito. Daí a música.
Ah, "quem dera saber que a hora me espera mesmo sendo eu tão lento..."
O grande solo da música, composto meio a meio por mim e pelo Andrés Zúñiga, ficou muito bom. A minha contribuição foi extremamente pensada, a dele improvisada: casamento perfeito.
Algo que não posso deixar de mencionar foi que o filme de Wenders realmente deu o impulso principal na construção da música. Eu o vi na época em que cheguei a Campinas, começando a viver o cotidiano universitário. Toda a efervescência cultural da época - sabotada diligentemente por todas as administrações municipais desde então - me levaram pra um outro nível de consciência do mundo, das relações humanas, das questões políticas e sociais no país. Todos esses conflitos e confrontos são coisas próprias de nossa humanidade e por isso fazem da vida essa coisa tão espetacular. A ponto de fazer com que anjos almejem vivê-la, trocando sua imortalidade pela experiência da existência.

                  
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segunda-feira, 5 de junho de 2017

O CD "O CULTO À CIÊNCIA" COMENTADO FAIXA A FAIXA - FAIXA 6 - JOGO

Lançarei um texto sobre cada uma das canções de meu primeiro CD, "O Culto à Ciência". Nesses textos contarei detalhes sobre o processo de composição e gravação além de curiosidades sobre o que me inspirou a escrevê-las.


Junto com esses textos, lançarei, a cada semana, um video lyrics em meu canal no youtube (procure por Wton) para que você acompanhe a música lendo a letra depois de ler o texto sobre ela. Experiência mais direta que isso só mesmo vendo o show. Em breve os convidarei para isso também.

JOGO
                Esta música originalmente teve sua letra (1.a estrofe e coro) escrita pelo grande amigo Edy Lins quando tocávamos juntos na banda Áquila, em São José dos Campos, no começo dos anos 90.
                Ele me mostrou os versos numa semana e eu os levei de volta na semana seguinte com a música e a proposta de arranjo já definidas. Ficamos animados com aquilo mas a banda acabou não tocando minhas canções porque eu estava visivelmente me afastando de quaisquer assuntos relacionados à religião e os outros caras estavam indo exatamente na direção contrária.
                Edy me disse que fez a letra pensando numa ficante com quem ele estava saindo.  Eu olhava as palavras e achava muito sombrio, meio tenebroso e até fiquei com medo de conhecer a menina.
                Já em Campinas, mexendo de novo com essa composição, vi que precisava de uma 2.a estrofe e tentei alinhar as idéias de forma coerente.
                "O" problema dessa música: já toquei essa canção num show onde a firma de som era de evangélicos e eles me trataram muito mal depois do evento. Notei que a receptividade deles mudou depois que eu cantei exatamente esta música. Tudo bem que na interpretação eu forço a teatralidade ao máximo ao ficar de joelhos e com os braços pra trás, dedos em figa, em frente ao Andrés, durante o solo. Mas será que é tão difícil assim conviver com quem pensa ou comporta diferente de você?
                Isso tudo remete a um sentimento que tenho (e que acho que muitos já experimentaram) de ter sempre a companhia de um outro alguém vivendo dentro de mim. Inacessível, inominável, inexplicável mas ali, rondando, sacando e às vezes me sacaneando.
                É legal, pra mim, brincar com as idéias de possessão demoníaca do cristianismo, da incorporação do espiritismo e umbanda e das explicações mais prosaicas dadas pela psicologia para os mesmos fenômenos. No fundo, são todas racionalizações que se faz sobre coisas que não conseguimos apreender completamente. A terceira destas racionalizações, claro, é baseada numa análise científica.
                Negamos nosso lado escuro, nosso lado "ruim", o lado animalesco, puramente instintivo para nos proteger da verdade que isso nos apresenta: somos um todo e nesse todo você vai encontrar coisas lindas e outras pavorosas.                 Se através de uma catarse emocional algumas pessoas passam a se comportar de forma a sugerir estarem possuídas por uma entidade......ah, vá lá: cada um acredita no que quiser. Pra mim, usar essa imagem de entidade distinta é uma forma de você exteriorizar coisas que na sua vida normal você não consegue.
                Partindo disso, acho válido dialogar com essas experiências, mesmo que a interpretação que eu faça não seja a mesma que as pessoas envolvidas nelas.
                Musicalmente falando, é uma música forte, pesada, densa. Os timbres, extenuantemente procurados para acomodar os significados das palavras, são a essência da canção. Cheguei a ficar 2 meses atrás do som certo para ser a base no solo. Testei centenas, achei um que gostei e ainda o alterei com filtros e ambiências. Em outra parte, no último coro, não achava um som legal de forma alguma. Acabei usando minha voz mesmo em 2 canais, intervalo de 5.a, com vocalização à la Alice in Chains de um simples "ééééééaaaaaummm". Timbre é tudo.
                Os dois solos, de guitarra e de teclado, foram compostos por mim. O Andrés gravou magistralmente o de guita e eu, pasmem, toquei o de teclado! Achei que ia deixar como midi (onde a máquina toca o que eu escrevi) mas acabei conseguindo gravá-lo. Tem até um outro momento que eu achei chocante: a guitarra inicial (que é muito simples). Eu pedi pro Freddy Bueno gravá-la, o que ele fez magistralmente. Mas, por incrível que pareça, já que o Freddy é um fenômeno de precisão e velocidade, a minha gravação é a que ficou. Eu achei que ela ficou melhor!!!
                E os backs com overdrive do coro? Eu sinceramente não sabia que isso não era usual. Quando o Pablo soube dessa utilização do overdrive me disse que nunca tinha visto isso ser usado no estúdio em que trabalhou. É a pesquisa de sons gerando um disco dentro do disco. Ah, te amo Radiohead!
               
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O CD "O CULTO À CIÊNCIA" COMENTADO FAIXA A FAIXA - FAIXA 5 - O SOL DO TEU OLHAR

Lançarei um texto sobre cada uma das canções de meu primeiro CD, "O Culto à Ciência". Nesses textos contarei detalhes sobre o processo de composição e gravação além de curiosidades sobre o que me inspirou a escrevê-las.


Junto com esses textos, lançarei, a cada semana, um video lyrics em meu canal no youtube (procure por Wton) para que você acompanhe a música lendo a letra depois de ler o texto sobre ela. Experiência mais direta que isso só mesmo vendo o show. Em breve os convidarei para isso também.

O SOL DO TEU OLHAR
Nas primeiras semanas em que estive como vocalista e tecladista da banda de blues The Hollers, confesso que achei que tinha entrado numa furada.  Não pelos caras, claro. Eles eram os melhores amigos que eu poderia ter com quem tocar. Mas eu ainda não havia entendido a profundidade, as possibilidades, o barato do blues.
Numa das vindas dos primeiros ensaios, voltando pra casa cansado e meio desanimado, passamos ao lado de uma estação de energia elétrica que as margens da rodovia Campinas-Monte Mor, uma das "rodovias da morte" da região.
O sol estava se pondo e, misturado a atmosfera suja da poluição urbana, seus raios chegavam até nós num tom avermelhado. A imagem é surreal e é algo que se pode conferir sempre que se quiser: o mesmo sol, a mesma sujeira no ar, a mesma estação de energia elétrica.  Nossa estrela morrendo atrás dos cabos, fios e armações de ferro, parecendo estar vertendo sangue, é algo que me tomou totalmente.  A imagem gerando idéias.  E as idéias gerando sons.
Lembrei-me dos olhos dela. Tão vivos e belos quanto aquela visão do sol vermelho.
Acho que fiz a música em uns 10 minutos.
Os acordes foram meticulosamente testados para suprirem o momento melódico com a exata intenção de apoio harmônico.
Esta talvez seja a canção mas acessível do CD, a que o Andrés dizia ser a que ele mais gostou.
Acho que é de um romantismo honesto, nada meloso mas extremamente sincero pois vê o desejo com algo genuinamente humano, cotidiano, necessário.
Desenhar as variações de andamento no computador levou um tempo bem grande porque tentar respeitar as mudanças que letra + música + arranjo + interpretação pediam foi algo que exigiu dezenas de audições e constantes aprimoramentos.
O solo, com 4 níveis de orquestra de violinos, foi algo que refletiu as aulas de contraponto com Lívio Tragtenberg, num grau de simplificação extremamente menor, claro. Mas a idéia central é a de 4 linhas independentes que se ajudam mesmo mantendo suas características individuais.
Os primeiros timbres que usei na produção da música eram de um synth da própria placa de som do Windows. Lixo total, claro. Depois, os troquei pelos sons de um Hypercanvas que deve ser um synth de 1817. Melhor, mas ainda tosco. Depois usei os sons dos TS12 e comecei a achar que eram os sons definitivos. Mas daí entrei no mundo do Reason e fiquei pasmo como os timbres eram completamente melhores, extremamente realistas. Que bom que lancei o CD em 2009 porque perigava eu ainda estar trocando os sons, sempre atrás de uma fonte sonora melhor!!!

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domingo, 4 de junho de 2017

O CD "O CULTO À CIÊNCIA" COMENTADO FAIXA A FAIXA - FAIXA 4 - INFERNO

Lançarei um texto sobre cada uma das canções de meu primeiro CD, "O Culto à Ciência". Nesses textos contarei detalhes sobre o processo de composição e gravação além de curiosidades sobre o que me inspirou a escrevê-las.

Junto com esses textos, lançarei, a cada semana, um video lyrics em meu canal no youtube (procure por Wton) para que você acompanhe a música lendo a letra depois de ler o texto sobre ela. Experiência mais direta que isso só mesmo vendo o show. Em breve os convidarei para isso também.

INFERNO
Esta música pedia que eu escrevesse sobre ela desde os tempos do lançamento do CD. Ela gerou muita polêmica.
Por motivos errados, a meu ver.
A letra não é um ataque (inconseqüente) ou um sarro (inconseqüente) ou uma piada (inconseqüente) com a crença cristã no céu e inferno pós-vida.
A coisa é diferente. Começou assim:
Deve estar perdido em algum canto aqui na minha casa meu troféu dado pela Rede Globo de criança/adolescente que mais assistiu o Telecurso nas décadas de 70 e 80.
Eu era mesmo vidrado. Via tudo, todo dia. Levantava as 6 pra assistir.
Aprendi horrores, claro. Alimentava diariamente meu lado geek, nerd, cdf (se bem que prefiro cda porque aço é muito mais duro que ferro).
Era muito bem feito. Só pra quem nunca viu ter uma idéia, entre os apresentadores das aulas estavam Bruna Lombardi, Antonio Fagundes e Gianfrancesco Guarnieri. Este último falava sobre História, com vinhetas ocasionais cujas trilhas eram de obras do barroco alemão. Lindíssimo. Chato pra caralho pra todo mundo mas eu amava.
Num desses programas, uma esquete sobre um texto de Mário (ou Oswald) de Andrade, não me lembro, onde um anjinho perguntava pro outro, depois de eras vivendo entre as nuvens do céu,  junto com outros anjos e com deus:
"- Quanto tempo dura essa eternidade?"
Ao que o outro anjo responde, serenamente:
"- A eternidade dura pra sempre!"
A cara de tédio do 1.o anjo era impagável, nunca me esqueci dela. Tanto que uns 20 anos depois levei a idéia adiante me perguntado como seria se eu, de alguma forma, fosse parar no céu cristão.
Bem, eu não imagino algum lugar, pessoa, situação, estado ou o que quer que seja que não acabe entediando alguém, caso lhe demos  tempo suficiente.
Talvez por isso a imortalidade não seja uma idéia assim tão boa: uma hora nos cansaríamos de tudo!
Citei o céu cristão mas isso vale pra qualquer coisa: um bar de rock, um relacionamento, livros, poesia, sexo, qualquer coisa. Se alguém aí ficou chateado com a letra.....não vou pedir desculpas: seja mais profundo ao abordar as coisas. Eu não vou me tornar raso só pra me igualar a você.
A música? A música é uma progressão angulosa de acordes cujas distâncias entre si criam um clima que procura mostrar o desespero que seria pra mim a idéia de ir pra um lugar como o céu cristão.  Pior do que dor, fogo, enxofre, sofrimento etc. seria alguém tentar me fazer o bem  me dando justamente aquilo que mais me destruiria: paz.
Eu toquei tudo nessa gravação. Mas não estou me gabando da proeza de conseguir tocar esse "solo".  Menciono isso pra enfatizar o quanto se pode fazer sozinho hoje em dia - letra, instrumentos, timbres, performance vocal, efeitos, arranjos, mixagem e intenção artística.

Qualquer um pode, se quiser, fazer tudo sozinho. Bem, intenção artística é menos provável de se conseguir apenas com boa vontade e disciplina.

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