"Não", diria a maioria das pessoas. "Só sei desenhar homem palito..."
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O que eu acho que acontece é que as pessoas tem uma concepção de Arte na cabeça que traz mais problemas do que solução.
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No exemplo de expressão visual através de pintura ou desenho, tenho certeza de que quando você dá um pincel ou lápis pra alguém que não se considera artista o que acontece é que há, antes de qualquer coisa, um sentimento de auto-repressão. A pessoa já se bloqueia antes mesmo de começar a se expressar. Recebeu educação ou informação sobre o mundo do simbólico de um jeito antigo, que fala muito de técnica e não dá espaço pra manifestação da individualidade.
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É como se já estivesse introjetado em nós um crítico que sussurra, antes mesmo que comecemos a produzir alguma coisa, "você não sabe fazer, você não é artista, deixa isso pro fulano que ele é que é bom...."
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Eu deploro essa visão de Arte, claro.
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Eu também poderia dar um outro exemplo. Sabe quando você passa por aquela situação em que você tem que dar um dos filhos e fica numa dúvida imensa? A gente sempre pensa coisas do tipo "caraca, que enrascada: o Joãozinho é tão legal, garoto esperto, tem os olhos da mãe....Mas a Mariazinha também é uma criança tão cheia de vida, tão sensível.....O que fazer?" E a gente sempre acaba escolhendo jogando a sorte dos pimpolhos no cara ou coroa ou dados, não é mesmo?
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O problema ao se "fazer Arte" não é exatamente o que se deve pintar, desenhar, esculpir, tocar, atuar ou dançar. O problema é o que jogar fora.
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Nós, seres humanos, temos uma dimensão inconsciente que a todo momento quer se expressar através das Artes e de outras forma na vida: pesquisa científica, literatura, vivências interpessoais, manifestações espiritualistas, etc. Mas nós também, espécie humana, fomos capazes de construir um sistema de julgamento, nomenclatura, classificação que atinge até essas sutis e delicadas manifestações humanas. E daí, as pessoas acabam sendo postas na defensiva: quando são instadas a se expressar, acabam sempre escondendo sua verdadeira personalidade e buscando seguir a normas inconscientemente impressas em suas cabeças.
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Nesse momento, deveriam jogar fora tudo o que não é delas e deixar que só o que é genuinamente seu aflorasse.
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Precisamos de uma educação libertadora.
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Em meu caso específico, pensando em meu 2.o CD, em fase final de composição, vejo que produzi centenas de bons versos que não entrarão no disco. Simplesmente porque não são uma expressão última e íntima do que quero falar. Mas, cara, é muito difícil jogar fora algumas coisas. Todas querem vir à tona, serem conhecidas, serem gravadas.
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Espero que esse meu trabalho se transforme em algo que algum dia eu (e outros) possam ouvir e dizer: "Poxa, não imagino nada nestas músicas que poderia ser mudado!"
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Todas as coisas contribuem para o bem dos que amam. Adeus.
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