segunda-feira, 28 de novembro de 2016

"EI, VOCÊ PREFEITO AÍ, ME DÁ UM DINHEIRO AÍ, ME DÁ UM DINHEIRO AÍ!!!!"

Continuando a discussão.....
Desta vez, falando a respeito do relacionamento do poder público e os músicos autorais ou entre ele e os artistas em geral ou até entre esse primeiro e a Arte especificamente........a coisa fica, a meu ver, bem mais clara.
Fica mais clara porque a relação entre os entes envolvidos é bem mais direta, palpável, evidente.
Pagamos impostos, certo? Bem, pagamos muitos impostos. Imposto pra tudo, sempre, desde que começamos a produzir dinheiro até o fim de nossas vidas. E antes de entrarmos no mercado de trabalho, nossas famílias pagavam impostos por nós. E nossos filhos continuarão pagando depois que nos formos.
Não, não sou um daqueles malucos contra todo e qualquer imposto. Me considero mais realista: a vida em sociedade pressupõe interesses e necessidades comuns que exigem que paguemos taxas e impostos para que essa convivência social ocorra da maneira mais civilizada possível.
Não gosto de pagar impostos, como qualquer um. Mas aceito porque sei que é necessário. Que eles sejam os menores possíveis. Que sejam os mais justos possíveis. Que onerem progressivamente quem tem mais e atue como mecanismo de justiça social cobrando menos de quem pouco ou nada de quem  nada tem.
Mas, uma vez estabelecido isso - a convivência com os impostos - passamos para a óbvia constatação de como gastá-los. E daí a sociedade se divide em inúmeros grupos que defendem seu ponto de vista sobre como canalizar o gasto do dinheiro arrecadado. Não vou discutir isso aqui, cada um defenda esse gasto da forma que lhe parecer mais justo.
O certo é que essa montanha de dinheiro arrecadado - num cidade como Campinas a grana é realmente estratosférica!!! - será dividida para atender às diversas demandas sociais e A CULTURA É UMA DELAS!
Tem que haver um aporte do dinheiro dos impostos para a Cultura porque é constitucional. Porque nós, que vivemos na e pela Cultura pagamos nossos impostos e exigimos isso. Porque só há progresso social e humano numa sociedade onde o patrimônio imaterial é respeitado, fomentado, incentivado.
Quando os artistas pedem dinheiro público para a Cultura (Artes em geral, literatura, manifestações culturais populares, mostras, festivais, etc.) NÃO DEVERIAM SE DIRIGIR AO PODER PÚBLICO COMO QUE PEDE UM FAVOR! Não, amigo, eles, eleitos pela maioria da população, é que deveriam se desculpar quando algo nessa área não sai do jeito que deveria.
E o que nós, produtores de música autoral e inédita, pedimos ao poder público?
O óbvio, o mínimo, o evidente: investimento na criação, manutenção e divulgação de espaços adequados para a veiculação dessa produção artística.
E tem que ser um investimento com a chancela de política municipal não sujeita a retrocessos ou mesmo cancelamentos ao critério do prefeito eleito!
Festivais, mostras, utilização constante dos espaços existentes, equipamentos de som e luz profissionais sempre que necessários, divulgação das ações de forma adequada, publicação periódica da produção artística nas mídias correspondentes, financiamento da produção musical, teatral, fílmica, de dança através de editais - bem, IDÉIAS NÃO FALTAM. Deixe nos comentários as suas.
O problema é a falta de uma visão da Cultura & Arte não como "enfeite" da administração municipal e sim como força constitutiva da cidadania.
O problema é a falta de continuidade, que não forma público.
O problema é muita gente achar que imposto é importante pra fazer escola, esgoto e creche mas financiar artistas é coisa desnecessária: "eles que se banquem no mercado......"
Sempre haverá um dizendo "o dinheiro não é suficiente pra tudo isso". Bem, além de não acreditar nisso, eu preferiria ver Cultura & Arte funcionando de forma orgânica e concatenada nesta cidade, mesmo que em escala pequena, do que experimentarmos cotidianamente esta realidade onde parece que tudo acontece de "virada em virada", esporádico, pontual, compartimentalizado.
Escrevi este texto em uns 3 minutos, fui pondo pra fora o que penso a respeito do assunto de forma quase visceral porque o tema realmente mexe muito comigo. Mesmo assim, feito num ímpeto, creio ter anotado as ideias principais que me guiam nesta discussão.
E você? O que acha?

Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam. Adeus.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

E OS DONOS DE BAR?

No último texto, elenquei possíveis explicações que são dadas para justificar as dificuldades pelas quais passa a cena autoral campineira.
Uma delas, que ouço frequentemente, é a que uma parte da "culpa" seria dos donos de bares e casa de shows que não colaboram com as bandas que tem material próprio, sempre optam por contratar bandas cover e quando abrem espaço para shows de grupos de repertório inédito, não investem pagando um cachê minimamente decente ou não divulgam o evento de forma adequada.
Olha, devo dizer que já pensei dessa forma e ainda hoje acho que uma parcela de responsabilidade pelo problema aqui discutido realmente pesa sobre esses empresários.
Mas note que eu terminei o parágrafo anterior propositadamente com a palavra "empresário".
Bem, a "associação de bares, botecos, casas noturnas de Campinas onde rola som ao vivo" não me deu procuração para os defender. Eu apenas dividirei com vocês conclusões a que cheguei depois de décadas tentando veicular meu som e tendo resultados desanimadores.
Em primeiro lugar, acho que devemos sempre partir do princípio óbvio de que, numa sociedade como a nossa, capitalista, de livre iniciativa privada, o cara que abre um bar está procurando, entre outras coisas (às vezes, até mais importantes que) o.................LUCRO.
Ele vai abrir o estabelecimento, passar pela via crucis burocrática, enfrentar o pagamento dos impostos, se adequar as normas sanitárias e de segurança, investir nas instalações, pagar funcionários, fazer estoque, criar espaços virtuais e convencionais de divulgação de seu negócio, etc. etc. etc. etc., tudo isso somente por amor à arte?
Além disso tudo, ainda alegam problemas de relacionamento com alguns músicos que nem sempre são profissionais, chegam atrasados, bebem demais, ficam anos com o mesmo repertório, tem comportamentos inadequados com os funcionários da casa, etc. etc. etc.
Só pontuo esse argumento, por mais óbvio que pareça, porque, ainda hoje, vejo não só artistas achando que esse tal de "amor à arte" justifica eventual prejuízo no bolso do dono de bar como também já vi até mesmo empresários bancando prejuízos por meses (e até anos!!!) à fio só pra manter o sonho do bar aberto.
Acho que nós, gente da música, temos que ter uma compreensão mais madura, mais realista, mais decente mesmo, da posição do empresário neste contexto. 
Pedir pro cara ter prejuízo com uma noite com bandas autorais por que você acha que ele tem uma espécie de "dever social" com a música inédita da cidade é, na melhor das hipóteses, ingênuo. Na pior delas, risível.
Por outro lado.....
Sim, existem os empresários picaretas. 
Já fui vítima de vários deles. E são as picaretagens de sempre: não pagam o que combinaram ou simplesmente não pagam, não movem um dedo pra divulgar o show (nem no próprio site do bar!!!), não cedem equipamento ou quando cedem, cobram caro por ele e por aí vai (complete as reclamações nos comentários, please).
Tonhão Coimbra, músico campineiro guitarrista da legendária banda Bamba Azul, num dos shows que fizemos juntos, me disse:
"-W, tamo ganhando esses 150 conto hoje mas esse é o mesmo cachê que eu recebia com o Bamba há 20 anos atrás!"
Tem também o famoso caso do empresário que abriu seu estabelecimento dizendo pra um amigo músico que ele iria ganhar dinheiro vendendo cerveja e comida. A portaria (que no caso seria o couvert artístico) seria dos músicos. Bem, nas primeiras semanas, o bar entupiu e teve banda com 4 integrantes saindo com R$ 2.000,00 no bolso. Resultado: no segundo mês as regras mudaram e a grana do couvert passou pro bar, que passou a pagar um fixo por músico, os tais 150 reais, que representava uma pequena fração do que ele arrecadava na portaria, claro.
Eu poderia contar muitas outras histórias como essa. Se chamasse meus amigos músicos pra falar então, encheríamos centenas de páginas de relatos absurdos como esse.
Mas deu pra se ter uma ideia de como as coisas funcionam, não?
E então, o que fazer?
Em minha opinião, o segredo é sempre se trabalhar com a pessoa certa. Neste caso, a pessoa certa seria o empresário que realmente entende o que é ter um bar onde rola música ao vivo. Um que entenda a dinâmica que rola nesta nossa discussão. Alguém que saiba trabalhar como pessoa de negócios mas que também entenda a cultura pop. Saiba sentar e negociar de forma profissional com as bandas. Que consiga enxergar os possíveis benefícios a longo prazo de uma empreitada de colaboração com as grupos autorais mas que, por outro lado, deixe bem claro (se possível por escrito) quais são suas expectativas e até mesmo exigências quanto ao trabalho dos músicos em seu estabelecimento.
Sei que você vai dizer "onde está esse bar em Campinas?".
E aí voltamos novamente ao velho problema: hoje, tá difícil achá-lo mesmo.
Acho que nós, artistas campineiros ou campinóides, podemos colaborar nesse processo tendo nós esta postura profissionalíssima que esperamos dos donos de bar. Conversando muito, negociando muito, demonstrando vontade de ver o lado dele na discussão, oferecendo toda a colaboração possível para o sucesso dos eventos.
O que eu estou querendo dizer, em outras palavras, seria: se tá difícil encontrar empresários nesse ramos de bares e casas noturnas com quem se possa trabalhar de forma realmente construtiva, criativa, positiva, mutuamente benéfica..........sejamos nós, músicos, com uma atuação extremamente profissional e competente, a propor uma mudança para que isso tudo passe a acontecer.
Acredito piamente que os iguais se atraem. Uma vez que façamos nossa parte de forma correta, uma hora ou outra vai aparecer alguém pra quem mostrar nosso trabalho significará um avanço pra todos.
Utópico? Polianesco? Irrealista?
O que você acha?

Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam. Adeus.


segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O QUÊ ACONTECEU COM A CENA AUTORAL CAMPINEIRA?

É a pergunta que todas as pessoas envolvidas com produção de música inédita se fazem hoje em dia!
Tenho entrevistado artistas importantes do cenário rock/pop campineiro, conversado com muitos músicos sobre este tema, pensado muito a respeito e gostaria de começar a discuti-lo afirmando, antes de qualquer coisa, o seguinte:

QUALQUER "RESPOSTA" À PERGUNTA TEMA DESTE TEXTO QUE APONTE, DE QUALQUER FORMA QUE SEJA, UM SUPOSTO "EMBURRECIMENTO" DO PÚBLICO OUVINTE JÁ COMEÇA, EM MINHA OPINIÃO, MUITO MAL!

Ou seja: esse tipo de argumento diz que a culpa é do outro. É como se estivesse dizendo que "a culpa é do cara que não quer ouvir minha música". E por que ele não quer? "Ah, porque ele não entende. Ele é preguiçoso, não quer perder tempo nem miolos analisando, refletindo, descobrindo o quão profunda, interessante e maravilhosa é a música que eu faço......"

Convenhamos, minha gente, que é só dar uma olhada rápida nesse tipo de retórica pra ver que ele revela mais sobre quem pensa assim do que sobre o tal "público burro".

Digo agora mas já esclareço que o que direi a seguir será repetido inúmeras vezes, até que isso possa ser acolhido como uma das máximas que me guiam (e a muitos outros, claro) há tempos:

VIVEMOS NUMA SOCIEDADE URBANA, TECNOLÓGICA E CAPITALISTA. JUSTAMENTE DEVIDO A ESSAS CONDIÇÕES, NOSSA VIDA PODE SER TUDO MAS NUNCA PODERÁ SER DITA "SIMPLES"
 (quer viver simples? Compra um sítio em Pirapora e vai criar galinha, o que também deve ter lá o seu encanto)

 NÓS AQUI, 80% DA POPULAÇÃO BRASILEIRA, VIVEMOS VIDAS COMPLEXAS, ONDE AÇÕES GERAM CONSEQUÊNCIAS E IMPLICAÇÕES POR VEZES INESPERADAS. SOMOS COBRADOS A TUDO, O TEMPO TODO. VIVEMOS NA CORRERIA, MUNDO VIRTUAL NOS EXIGINDO ATENÇÃO, DESLOCAMENTOS DIFÍCEIS, DISTÂNCIA DOS IDÍLICOS MAR E AMBIENTE RURAL, ETC., ETC., ETC.

ENTÃO:

NÃO HÁ SOLUÇÕES SIMPLES PARA PROBLEMAS COMPLICADOS!!!

Pense naquele ditado: pra todo problema há uma e somente uma solução e quase sempre essa solução é a errada.
Então, é isso. Quer resolver o pequeno problema que aflige alguns milhares de cidadãos voltados para a produção de música autoral campineira e que não encontram quem compre seus CD´s, vá aos seus shows ou lhes dê um mísero "curtir" diário em suas publicações na rede? É só dizer que o público é burro e....pronto! Problema resolvido!........
Não é por aí, óbvio.

Bem, se esse não é o problema, qua(is)l ser (ão) á?

Donos de bar que não "bancam" noites autorais fazendo divulgação decente? Falta de apoio do poder público para a produção artística local? Crise econômica que impede que quem consome cultura o faça num nível que ajude a criar uma comunidade criadora minimamente estruturada? A grande mídia tomou conta de tudo e só promove/incentiva que gera produtos fáceis de se vender?

Bem, como você pode ver, o problema é um "tiquinho" mais complicado do que parece à primeira vista.
Vou escrever brevemente sobre esses temas nas próximas semanas mas aguardo sua opinião.


Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam. Adeus.