A POESIA É ALGO VIOLENTO

“Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.”

[...]
"O Lutador", Carlos Drummond  de Andrade

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Escolher a palavra exata pra se colocar numa canção é bem difícil. Uso sempre 3 dicionários de sinônimos mais 2 de rimas fora a busca pela palavra em questão em outros contextos, só pra ver se realmente a estou respeitosamente usando de forma adequada.

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Já fiquei anos (isso mesmo: ANOS) com versos incompletos à procura da palavra adequada. Algumas vezes, só o fato de compartilhar esse drama com outras pessoas já traz luz suficiente para que eu me sinta seguro o suficiente para me decidir sobre um ou outro termo.

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E o pior é quando você se depara com uma situação em que simplesmente não há como resumir num só grupo de letras tudo o que se pretende e daí você tem que se contentar em usar algo que, no final das contas, não é exatamente o que você queria. Acho que nesses momentos ficam claros meus "limites" poéticos, o uso máximo que consigo da língua.

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Fazer o quê: enquanto, na infância, o Chico Buarque ouvia  Cartola e Nat King Cole eu ouvia Vencedores por Cristo.....

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Mas não choremos sobre o leite derramado: façamos o melhor que pudermos. Leiamos muito, muita poesia, analisemos as boas letras de música que tem por aí, não tenhamos medo de errar, nos debrucemos sobre nossas as canções e briguemos com elas até que ela cheguem perto do que queremos realmente dizer.

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Não sejamos preguiçosos, por favor!

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É por isso que eu digo sem medo de errar: "juntos e shallow now" é o caráleo!

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QUANDO ACENDE A LUZ VERMELHA....

Meus alunos são testemunhas de que eu sempre digo que "estudar em casa é uma coisa, tocar na aula para o professor é outra e tocar em público é ainda outra!". O que quero dizer é que manter a performance em nível elevado mesmo não estando mais na confortável situação de se estar sozinho num quarto e sim em frente a muitas pessoas é algo a ser conquistado. Vai de se desenvolver muito auto-controle, ter a canção da ponta dos dedos (ou da língua) e também se permitir a experiência de se apresentar sempre, sabendo de antemão que algumas apresentações serão melhores do que outras.....

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Mas é daí que virá a excelência: da experiência, lapidada por inúmeras apresentações onde, em cada uma delas se aprendeu um pouco mais sobre auto-controle na interpretação.

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Porém, no contexto de "faça o que eu mando mas não faça o que eu digo", tenho passado por algo semelhante ao gravar as músicas de meu próximo CD em meu home studio. São canções que conheço há décadas e que toco há anos mas que, na hora em que a gravação começa......(antigamente nos estúdios profissionais, quando se entrava em gravação, se acendia uma luz vermelha).

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Os mesmos ensinamentos, técnicas, dicas e sugestões que dou a meus alunos antes de uma apresentação se aplicam a mim nesses momentos. Mas, olha, é difícil porque, em certos aspectos, você saber que está gravando algo que será ouvido por milhares de pessoas por muito tempo põe até mais pressão sobre a gente do que uma apresentação ao vivo.

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Em meu primeiro CD, escrevi alguns solos de guitarra que eram muito difíceis para serem tocados por mim. Então, Andrés Zúñiga e Freddy Bueno os executaram de maneira perfeita. E foi emocionante de se ver: o sinal de "gravando" era dado e eles saiam seguindo a partitura de forma exata e até acrescentando detalhes que melhoravam o solo. Sem suar, sem tremer, sem stress.

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Fica a certeza de que a vida voltada pra performance instrumental ou vocal é algo realmente fascinante. A repetição, o estudo, a prática diária constroem um artista capaz de ser, quando necessário, um canal perfeito para a veiculação da beleza, da sensibilidade, da Arte.

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Noutra encadernação, eu quero ser isso.

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CRISIS? WHAT CRISIS?

Ao ouvir meu próximo CD na íntegra no sábado passado, completamente composto e arranjado, tive duas intuições que fizeram valer cada quantum de energia gasto na construção das músicas:

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1) É muito duro entrar em contato com suas próprias limitações! No caso, musicais. Sim, dei o máximo que pude na escolha de cada palavra, cada nota, cada acorde, cada encadeamento, cada orquestração. Mas, na verdade, é só com o todo completo é que você nota em que ponto você está no conceito "domínio do métier". Esse tal de métier significa consciência e uso adequado e sensível da poética, da métrica, da escrita contrapontística, da performance vocal e da técnica instrumental. Outras texturas, outras nuances, outros caminhos musicais poderiam ter sido atingidos, trilhas sonoras distintas experimentadas. Mas não consegui. O que consegui está lá. Não acho pouco mas não é tudo que pretendo fazer. Mas terei que estudar e vivenciar mais dos sons, timbres, emoções e liberdades que ainda não tive o prazer de experimentar.

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2) É muito bom entrar em contato com capacidades internas que você nem vislumbrava possuir. Ser sensível e atento para onde a Musa Música quer te levar, confesso, não era uma das minhas características mais marcantes. Sempre me impus a ela, ordenando-lhe o que fazer e o que soar. Isso mudou. Tive o prazer de em muitos momentos simplesmente deixar as vibrações seguirem à vontade, me levando para onde queriam. Foi a melhor experiência estética que já tive na vida. Perto disso, ter entrado em contato com Shakespeare foi um lance menor. Obediência, Wton, é preciso obediência. A você mesmo, claro.

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