Você fazer uma música, mesmo que domine todo o processo, desde a composição até a masterização, não o livra do momento em que terá que se entender com um artista gráfico pra fazer o encarte, a firma pra fazer as cópias do CD, o jornalista pra fazer um release do trabalho, agentes ou empresários pra ajudar na venda dos shows e por aí vai. Dei este exemplo em música porque é minha área mas todas as outras áreas - dança, plástica, teatro, etc - passam pelo mesmo processo.
Semana passada, como resposta a minha tentativa de me aliar a uma empresa para incrementar alguns aspectos de minha carreira, recebi um sonoro "não, muito obrigado".
Sim, não foi nada agradável ouvir isso, mesmo já tendo recebido inúmeros "nãos" de outros profissionais e empresas.
Desta vez foi mais difícil engolir porque eu tinha procurado essa firma justamente porque quem a indicou tinha uma história de vida parecida com a minha em alguns aspectos fundamentais: ele criava desde a adolescência mas se lançou profissionalmente somente aos 42 anos (como eu!!!). Hoje ele está tendo um tremendo sucesso em sua área.
Então, fui lá: mandei todas as informações pertinentes sobre mim e sobre minhas músicas e textos, compartilhei planos, descrevi ideias para o futuro, contei sobre o (bom) retorno que tenho tido. Dourei a pílula. Até porque essa pílula, pra mim, realmente é dourada.
"O seu projeto foi minuciosamente analisado pela diretoria da empresa e, infelizmente, ele não está dentro do perfil musical de nossos patrocinadores. Temos uma cartela de cliente do qual conhecemos bem o perfil, e não há nenhum que se interessaria em patrocinar neste tipo de ação." Estas foram as palavras exatas usadas por eles.
Fui ver a tal cartela de clientes deles: só artistas famosos, com carreiras longas e sólidas, já estabelecidos no mercado.
Bem, este que vos fala é bem famoso lá em casa, tem uma carreira de 6 anos (6 shows) e não está estabelecido no mercado porque nem tem mercado pra música autoral.
Não, este texto não é um texto pra reclamar dessa firma.
Prefiro pensar (e te convidar pra pensar) no seguinte: você já foi alugar casa e quis uma com 2 dormitórios e se deparou com o seguinte problema: tinha um monte de casa de 1 quarto, quase nenhum de 2 ou as que tinham 2 estavam imprestáveis e depois, muitíssimo mais caras, um monte de casa com 3 ou mais dormitórios? Ou seja, tem um vazio num dos patamares que revela um pouco como o mercado ainda não se adaptou a mudança da estrutura do tamanho das famílias de classe média: hoje é pai e mãe e um filho. No máximo, 2.
É mais ou menos isso que sinto: não tem empresas que atendam a artistas "pequenos", artistas em início de carreira, que nem sabem como se estruturar direito. Se existem essas empresas, eu não as conheço. E olha que eu procuro bastante.
Sim, tem um monte de gente na net se oferecendo pra ajudar exatamente esse tipo de artista (em início de carreira, que não tem nenhum "quem indica" ou não tem grana pra investir em si mesmo) mas eles cobram o que poucos podem pagar.
Se uma empresa quer agenciar artistas que lhe darão muita grana porque, só pelos seus nomes consolidados já trazem multidões, é um direito dela. Boa sorte, que tenham muito sucesso.
Mas onde estão aqueles empresários que "fuçam" o mercado e sacam que aquele artista ou banda ou ator ou companhia ou seja lá o que for tem potencial, promete, vai virar, vai se tornar alguma coisa legal num futuro não muito distante?
Por favor, não pensem que me refiro (somente) a mim. Tô careca de me deparar com artistas interessantíssimos que tem que ficar correndo pra se vender porque não acham uma alma viva sequer que entenda o potencial de se crescer junto, em parceria.
Parece que o tal capitalismo tupiniquim só funciona de um patamar pra cima: quem quer vender show da Pitty? Sai quinhentos mil correndo de olho na grana que sabem que poderão vir a ganhar.
Quem quer pegar este ótimo trabalho aqui, participar do processo de divulgação, emprestar seu tempo e cabeça pra bolar eventos e lançamentos, rodar o mercado, se doar por essa ideia e.......CRESCER JUNTO, tanto em grana quanto em fama?
Onde estarão essas pessoas?
Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam. Adeus.
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