domingo, 29 de julho de 2018

TIMBRE É TUDO!

Como vocês sabem, estou na fase de arranjo das músicas de meu próximo CD.
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Nessa fase você determina como sua música será gravada. Quais serão os instrumentos que a tocarão, qual será a forma (tipo "introdução, 1.a estrofe, coro, solo e coro, por exemplo), talvez até escreva as notas de alguns dos solos, determina detalhes importantes do panorâmico (certas coisas nas caixas do lado direito e outras no esquerdo), bola as vozes, etc. etc. etc.
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É uma fase muito trabalhosa mas também extremamente divertida de se fazer porque é como se soltassem uma  criança num parque do tamanho do universo e dissessem "vai lá, brinca com o que quiser!".
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Mas, a exemplo do que já tinha me acontecido na gravação de meu outro CD, "O Culto à Ciência", tem uma parte nessa fase que é especial pra mim: a escolha dos timbres. Inclusive, eu cheguei a atrasar em alguns meses a finalização desse CD só pra poder incluir alguns sons espetaculares que descobri!!!
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Pra quem não é do ramo apenas digo que em termos de variedade de sons, a tecnologia atual está dando aos músicos uma inacreditável gama de opções.
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Fora os instrumentos em si, fonte de sonoridades ricas e delicadas, os tais VST (Virtual Studio Technology), plugins que você instala em seu PC pra ter acesso a bibliotecas de sons maravilhentos, deixam os músicos com tantas possibilidades que chegam até a intimidar.
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Sim, leva literalmente horas pra se percorrer todos os bancos de timbres. Você tem que, paciente e diligentemente, tocar um pouco cada um dos sons pra entendê-lo e imaginá-lo fazendo parte de determinada música. Mas é algo fascinante. Viciante. Entorpecedor.
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Entorpecedor mesmo.....
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Estava eu rolando já a umas boas horas a relação imensa de timbres do VST Absynth quando entrei num estado de concentração tão grande, fiquei tão imerso no processo, tão obcecado em verificar as nuances que aquelas maravilhas sonoras podem oferecer, tocando-as tanto nas regiões graves quanto nas médias e agudas........estava tão absorto, tão imiscuido, tão.....tão.....tão......que.....
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chegou uma hora que eu me peguei pensando:
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"eu preciso de um som carmim, aveludado e refrescante......."
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Quando eu formulei esse pensamento em minha cabeça, caiu a ficha e racionalizei notando que já estava me relacionando com o timbre de forma sinestésica. Eu digo, sem medo de parecer maluco, que eu realmente queria por minha mão no som e senti-lo uma seda, olhar pra ele e vê-lo vermelho e sentir na pele o frescor que ele exalava.....
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Acredite em mim: eu parei com as drogas pesadas a mais de 25 anos atrás!
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Todas as coisas contribuem para o bem dos que amam. Adeus.
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domingo, 22 de julho de 2018

EVOLUÇÃO ESPIRITUAL

Nasci ateu, como todos.
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Fui criado numa família cristã e, portanto, fui feito cristão durante toda minha infância e adolescência.
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Fui assíduo e atuante no dia-a-dia de minha igreja (protestantismo tradicional) até meus 18 anos. Nesse momento, já com o saco cheio com um monte de coisa daquela rotina mais religiosa que espiritual, eu e mais 11 jovens chutamos o balde e montamos uma comunidade carismática.
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Fiquei lá uns 4 anos até que vim cursar composição na UNICAMP.
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Fui um cristão envergonhado na universidade por um tempo, até que completei 24 anos.
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Talvez a distância do pessoal da comunidade tenha facilitado o aprofundamento de alguns questionamentos que me levaram, paulatinamente, ao fim de minha relação com o cristianismo.
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Ao mesmo tempo comecei uma fase de conhecer outros credos e cultos por razões de curiosidade  "antropológica" ("menti" essa justificativa pra mim mesmo por muitos anos!). Visitei tudo: da umbanda ao Universo em Desencanto, passando pela fé Bahai, Espiritismo e Budismo.
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Na fase seguinte, que chamo de "mística", li muito sobre auto-ajuda e movimentos nova era. Louise Hay, Lair Ribeiro, Osho, Krishnamurti, entre outros, e filosofias orientais. 
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Daí me aprofundei em filosofia tradicional e fui preferindo me definir como agnóstico.
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Anos depois, considerando que se dizer agnóstico é o mesmo que ser um ateu covarde, parei com isso e passei a considerar a mim mesmo como ateu.
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No começo foi um ateísmo radical, tipo "destruamos todos as igrejas para sermos felizes".
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Depois de muito tapa na cara da vida, de me encontrar com pessoas maravilhosas que professavam todo tipo de fé, fui vendo que esse lance de espiritualidade, além de ser usado pelo capitalismo pra manipulação do povo (é isso aí, vovô Carlos!!!), é algo intrínseco ao ser humano, tá em todo mundo, de uma forma ou de outra. Talvez seja apenas o atual estágio de desenvolvimento da humanidade mas é algo real, importante, diria até mesmo imprescindível para as pessoas em geral.  Sim, acho que é algo real baseado em algo irreal mas é menos real pra um crente só porque essa é minha opinião?
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Então, acho que a forma com que as pessoas se relacionam com suas "vidas espirituais" diz muito sobre elas mesmas, por mais que se tente mudar o foco para alguma entidade ou deus. E também tem uma coisa, a mais importante: depois de muita conversa, muita troca, muita amizade, muita reciprocidade, por baixo de todas as camadas de "espiritualidade", às vezes tem um ser humano bem interessante ali.......
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Então, você ouvirá um resumo disso tudo em meu próximo CD que é, pra mim, muito espiritual, apesar de ateu. 
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Conhecer cada vez mais o universo e as pessoas que nele habitam é, pra mim, algo espiritual. Não há um sentido na vida a priori. A vida tem o sentido que damos a ela.
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Você enxergará isso nas músicas? Por favor, não deixe de me dizer, ok?
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domingo, 15 de julho de 2018

MEU PRÓXIMO CD: UMA PRÉVIA!

Estou atualmente na fase de arranjo das músicas de meu próximo CD. Isso deve durar até outubro.
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Depois disso vem as gravações propriamente ditas.
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O nome (provisório) do álbum será "A Totalidade sem costuras", que alude a uma ideia do físico americano David Bohm.
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Serão 29 faixas. Algumas coisinhas sobre cada uma delas:
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1) "A Totalidade sem costuras": resumo-cartão-de-visitas do disco que dá, logo de cara, um muito do que virá depois

2) "Viagem III": vinheta com letra minha sobre poema de Leminski. Dura alguns segundos mas é uma porrada. Todas as músicas pares são letras de Leminski

3) "Sonho Bohm": minha experiência (minha loucura?) ao vislumbrar o que seria, na prática, as consequências de algumas concepções de Bohm

4) "A Margarida": nem todos os poemas de Leminski tem nome. Este poema, por exemplo, não tem. Eu o resolvi chamar assim (também) em homenagem à dona Margarida, minha mãe

5) "Fontes": drogas, todas elas

6) "Minha mãe dizia": o poder, em todos os níveis, que vigia, pune mas que também gera coesão.

7) "O Macaco": não é a quântica e sim o que sinto diante dela.

8) "A noite": a sua e a minha.

9) "O som e o sentido": única música instrumental do CD. Ainda não sei quem será a banda que a tocará mas espero contar com alguns dos melhores instrumentistas (e amigos) da cidade.

10) "O ex-estranho": Leminski, como eu, também não gostava de viajar.

11) "Everett": longa canção que tenta resumir o drama que foi a vida de Hugh Everett III, físico americano criador da teoria física que está na base das ideias popularizadas na ficção científica como "universos paralelos"

12) "Incenso fosse música": piano e voz, última a ser composta, 50 segundos

13) "Céu": dá prosseguimento à canção "Inferno" de meu CD anterior ("O Culto à Ciência"). Mas esse é o meu Céu que pode, claro, não ser o seu.

14) "Essa ideia": áudio de um vídeoclip que resume um possível encontro de sentidos entre a poesia de Leminski e a Física

15) "Mar Portuguez": poesia de Fernando Pessoa que musiquei a uns 10 anos atrás e que, finalmente, vou conseguir gravar

16) "Por um lindésimo de segundo": a melhor música do disco, em minha opinião, pelo lirismo que consegui destilar ao me inspirar alucinadamente em Freddie Mercury (You take my breath away)

17) "Cantiga de Malazarte": poesia de Murilo Mendes que evoca uma humanidade que de tão cotidiana, gera o sentir mágico ainda que agnóstico

18) "Você para a fim de ver": o que te separa das estrelas?

19) "Eterno retorno": única canção de matiz erudita contemporânea do disco onde o sentido se revela na forma

20) "Minhas 7 quedas": exercício vocal timbrístico harmônico sobre outra grande sacação de Leminski

21) "O sexo das ideias": a canção mais pop do disco que é uma homenagem a algumas das grandes mulheres da Ciência

22) "Pétala": que a moldura sinfônica faça jus a beleza do poema

23) "Desconectado": a estafa (cansaço, fadiga, esgotamento) que leva à meditação

24) "Sobre a mesa vazia": a canção "espírita" que concebi em alguns minutos e que só leva voz e piano

25) "Bohmian Rapsody": são, na verdade, 5 músicas que juntas esboçam um pouco do que foi a vida e obra de David Bohm

26) "Contranarciso": ".....o outro que há em mim é você.....". Jazz sorumbático místico de 2 acordes e improvisos de verniz oriental

27) "As 3 leis da termodinâmica": a canção mais pesada que gravarei. Pesada no som e no pessimismo, não tem de quê

28) "Nem toda hora": música pra todos cantarmos juntos no show de lançamento. Você a aprenderá na hora, pode apostar

29) "O ser, o sexo e a morte": esperando numa fila do DETRAN pra emplacar o carro, pensei em Heráclito, fodas e o fim.
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Espero te ver no show de lançamento!!!
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segunda-feira, 9 de julho de 2018

UM GUIA PRÁTICO DE COMO JOGAR DINHEIRO PRA DENTRO DA CARTEIRA DOS COMPOSITORES

Um amigo compositor, ao chegar à Europa, descobriu que o taxista também fazia músicas. Conversaram bastante e o cara lhe deu uma dica de ouro: "se cadastre numa entidade que recolhe direitos autorais na zona do Euro e depois peça pro maior número de músicos possível inscrever o nome de pelo menos uma de suas músicas sua na relação de músicas que ele vai tocar em determinado bar (sim, lá os músicos tem que fazer isso). Mas note que o cara nem precisa realmente tocar sua música, o que vale é ele dizer que tocou".
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Fazendo isso, a grana que o bar paga para o órgão de arrecadação de direitos autorais será dividida pelos autores das músicas que forem citadas, proporcionalmente as vezes em que elas foram executadas, claro.
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Pra nós, brasileiros, que nunca tivemos um ECAD decente, esse procedimento parece improvável de ter sucesso. Mas, segundo músicos europeus com quem esse meu amigo falou, funciona perfeitamente. Há vários casos de compositores que, com o passar dos anos, acabam conseguindo se manter lá na Europa só com o recebimento de direitos autorais.
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Seria um sonho se isso rolasse aqui, né? Mas há uma outra forma de fazer com que a música feita por alguém receba algum dinheiro cada vez que é ouvida.
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E me refiro aos serviços de streaming, tão difundidos hoje em dia como o Spotfy ou o Deezer.
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Funciona de forma parecida: quanto mais uma música é ouvida, mais próximo de receber algum dinheiro o compositor da música chega. Digo próximo e não "recebe dinheiro" porque a relação audição versus ganho é bem injusta para com o músico. Sim, as empresas vão dizer que só assim elas conseguem se manter no negócio mas a impressão que fica é que elas poderiam cortar um zerinho que fosse e não iriam falir por isso....
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Na prática, sugiro que você ouça novos artistas (campineiros) nos serviços de streaming diariamente. Nem que você dê o play e ouça apenas para conhecer e descobrir se você gosta ou não. Você pode contribuir pra capitalizar um artista SEM TIRAR DINHEIRO DO BOLSO.
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Eu faço isso sempre. Já pus prá tocar até músicas que normalmente não ouço (pagode, sertanejo, romântico) só pelo prazer de ajudar quem tá lutando pra se manter na estrada da criação autoral.
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Fui incentivado a escrever este texto por um post de Fabiano Negri (a quem ouço diariamente) que transcrevo abaixo. 
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"FABIANO NEGRI

Nos últimos 28 dias, eu tive 10.300 plays nas minhas canções apenas no Spotify!
Muito obrigado para quem está ouvindo!
Saiba que uma das poucas formas de um artista independente ganhar alguma coisa hoje em dia, é com o pagamento vindo das plataformas de streaming.
Quem ouve meu trabalho hoje, está me ajudando a financiar os trabalhos do futuro.
Para quem ainda não conhece, links abaixo. 
Conto com você para esse número ser ainda melhor.
Spotify: https://open.spotify.com/artist/114WsTVsJS4EgI7FmTMCAk
Deezer: http://www.deezer.com/artist/5643311…
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domingo, 1 de julho de 2018

UM CONSELHO: ESTUDE!

Se você pegar o lado progressivo do rock, verá, sem sombra de dúvida, que é muito importante estudar música, praticar bastante, conhecer profundamente harmonia, ter muita técnica instrumental.
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Mas.....
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Mas como não estamos aqui só pra ficar de bem com as pessoas que fazem esse tipo (maravilhoso) de som, também temos que nos lembrar que há inúmeros exemplos de ótimas canções ou até mesmo de ótimos artistas que faziam e fazem sua arte sem ter lá muitas preocupações com essa coisa de tocar bem o que quer que seja.
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Conheço inúmeros músicos excelentes e, pra maioria deles, Nirvana, por exemplo, é uma piada de mau gosto. Simplesmente porque eles não conseguem reconhecer valor artístico em quem não toca bem. (aqui, um adendo: se você tiver apenas 1 aula de violão comigo, lhe garanto que você vai sair tocando muito melhor guitarra que o Kurt Cobain tocava - digo isso só para aqueles que não entendem o tamanho do problema).
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Eu tenho advogado há tempos que existe espaço pra todos e pra todo tipo de manifestação artística. Sim, há gente que toca muito mal e que TAMBÉM faz música desinteressante, mal pensada, mal produzida, chata. Mas, creiam, o número de canções extremamente desnecessárias que são feitas por quem só está masturbando a guitarra com escalas rapidíssimas que não dizem nada também é enorme.
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Mesmo assim, pra quem tá começando a carreira de músico, o título deste texto te incita a estudar. Por que?
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Porque tenho passado por isso: um milhão de ideias na cabeça e a grande maioria acaba encontrando uma enorme dificuldade de se manifestar adequadamente porque eu sei o que quero mas não consigo pôr em prático por pura falta de técnica instrumental.
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Sim, eu consigo escrever as partituras pra que quem saiba ler possa tocar minhas ideias. Mas não seria uma enorme economia de tempo e dinheiro se eu mesmo conseguisse as tocar?
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O que eu estava fazendo da vida na época em que eu deveria estar estudando piano ou guitarra ou vocal?
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Qualquer dia te conto.
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