segunda-feira, 24 de julho de 2017

POR QUÊ GRANDES EMPRESÁRIOS NUNCA IRÃO ME FINANCIAR?

Recapitulando o que escrevi nos textos anteriores mas dizendo de outra forma:

1) Nada no mundo é eterno. Na música, por exemplo, o jazz, o blues e a música erudita estão acabando.
2) Porém essas expressões sonoras não estão morrendo de morte morrida e sim de morte matada.
3) Deixe sua confortável posição de juiz estético e entenda que cada um é livre pra gostar do que quiser. Há sempre um bom motivo para alguém gostar de algo.
4) Os tipos de música citados acima surgem de e com um imenso acúmulo de informações sonoras, históricas, etnológicas, estéticas e sociais.

Agora, linkando o título deste texto aos demais digo que:

Nenhum empresário que se preze vai entrar em bola furada. Se investir mal seu tempo e recursos vai à falência. Simples assim. Ou, antes que a falência aconteça, verá seu empreendimento estagnar, os concorrentes passarem à frente, perderá dinheiro, terá dificuldade de alavancar novos planos pro seu negócio e assim vai.

Logo, não esperemos que haja um forte aporte econômico por parte dos empresários para músicas que não representem ganho pra sua marca. Esse ganho será, na maioria das vezes, ampliação da visibilidade de seu negócio. Claro que empresários irão pôr seus recursos em ações que maximizem a chance de serem lembrados pelo maior número de pessoas possível.

Ficar pensando em empresários bancando atividades culturais e educacionais pelo mero prazer de ver o povo se educando e a cultura crescendo é algo, no mínimo, ingênuo. Pelas próprias regras de funcionamento da sociedade atual, sem algum lucro não haverá investimento, não importa o tamanho do retorno (se ele for apenas simbólico, estético, humano, artístico, cultural).

Eles não irão financiar de forma metódica, consistente e abrangente, qualquer tipo de arte que seja consumida por um pequeno número de pessoas. E é aí que entram os 3 tipos de músicas citadas acima.

Note, então, que o quê há em comum entre a música erudita, o jazz, o blues e, incluo agora, a música autoral não voltada para o mercado de massas é que O TEMPO PARA A FORMAÇÃO DO OUVINTE DESSA MÚSICA É LONGO. Ou pelo menos, definitivamente maior do que o tempo que se leva para "aprender" a ouvir o repertório de uma dupla sertaneja qualquer, por exemplo.

Veja bem: neste momento não estou discutindo o valor intrínseco das músicas que citei nem demonizando esse posicionamento dos empresários. Isso é do jogo capitalista: se eu investir 1 milhão numa dupla sertaneja terei, sob forma de divulgação da marca, ao longo do tempo, um retorno que certamente me trará pelo menos o triplo desse valor. Mas, ao manter uma orquestra funcionando, algo dispendioso, quanto uma empresa ganhará de forma direta ou indireta?

Muitas formas de se contornar esse problema tem sido tentadas mas sempre se esbarra nessa questão: o que a arte a ser financiada trará para a empresa? Governos tem tentado abdicar de frações dos valores de impostos em benefício de artistas (atualmente esportistas e entidades assistenciais também) mas isso é claramente insuficiente. Somos um país onde 85% da população não vai a teatros, espetáculos de dança, de música instrumental ou a exposições.

Qual empresário quer investir milhões para a formação desse ouvinte? Bem, tenho a certeza de que você já deve ter notado que chegamos num ponto em que fica claro que empresários não farão isso porque isso não é pra ser feito por eles! Investir na criação, manutenção e desenvolvimento de uma audiência capaz de ouvir, fruir, usufruir, entender, se relacionar com expressões artísticas que trabalham com um grande número de referências culturais é OBRIGAÇÃO DO ESTADO!!! O mercado, por si próprio, não fará isso!!!

E então? O que fazer?

Repetindo:

1) Nada no mundo é eterno. Há formas de expressão musical que estão inequivocamente acabando.
Na música, por exemplo, o jazz, o blues e a música erudita estão acabando.

2) Porém essas expressões sonoras não estão morrendo de morte morrida e sim de morte matada.
Diferentemente de outras épocas, o fim dessas expressões não tem nada de natural. Há causas claramente discerníveis por trás desse fenômeno.

3) Deixe sua confortável posição de juiz estético e entenda que cada um é livre pra gostar do que quiser. Há sempre um bom motivo para alguém gostar de algo.  Não existe música ruim. O que você chama de música ruim é só música que você não gosta.

4) Os tipos de música citados (jazz, blues, erudita e autoral não destinada ao consumo em massa) são fruto de um imenso acúmulo de informações sonoras, históricas, etnológicas, estéticas e sociais. Trabalham com um volume enorme de informações. São músicas que você aprende a ouvir. E isso leva tempo. E como tempo (pro sistema econômico atual) é dinheiro.....

5) Grandes empresários só financiarão ações que lhes tragam benefício direto pra seus negócios. Tudo o que ficar fora disso simplesmente não receberá recursos. Aí é que entra o Estado.

Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam. Adeus.

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segunda-feira, 3 de julho de 2017

O QUÊ HÁ DE TÃO ESPECIAL NA MÚSICA ERUDITA?

Não se perca!!!

Estou escrevendo uns textos que falam sobre o mesmo assunto, cada um deles abordando um aspecto diferente do mesmo.

Os 3 primeiros, dizem, resumidamente, o seguinte:

1) Há formas de expressão musical que estão inequivocamente acabando.
2) Diferentemente de outras épocas, o fim dessas expressões não tem nada de natural. Há causas claramente discerníveis por trás desse fenômeno.
3) Não existe música ruim. O que você chama de música ruim é só música que você não gosta.

O raciocínio que proponho hoje é o seguinte: diante do que já escrevi, poderia se perguntar o por quê de se chorar pelo fim de alguns tipos de música (clássica, jazz, blues) visto que eu eu acabei de defender que não existe música ruim.

Isso me leva a escrever uns poucos parágrafos com a (impossível) missão de resumir o que há de tão importante assim na chamada música erudita que a torna digna de uma preocupação tão profunda quanto à possibilidade de seu fim.

Bem, começo lhe perguntando algo que, apesar da aparente frivolidade do questionamento, pode nos ajudar a entender melhor o problema: quanto esforço você tem que fazer pra ouvir Nêgo do Boréu? Qual é o esforço que você precisa dispender pra ouvir Anitta? O que há de difícil pra você captar a mensagem, a melodia, o ritmo e até as coreografias das músicas de Ivete Sangalo?

Nenhum, claro (espero).

Isso porquê esse tipo de repertório tem como pressuposto uma comunicação imediata com o ouvinte. Longe de qualquer ídolo sertanejo, pop, axézento ou pagodeiro qualquer canção que "complique o meio de campo". Jamais esses e outros gêneros musicais  com pretensões em atingir as massas irão veicular músicas que não pleiteiem a contato direto com as pessoas. A mensagem tem que ser simples, a melodia tem que ser facilmente cantarolável e memorizável, as batidas tem que ser contagiantes e a dancinha tem que ser aprendida porque qualquer um.

Já a erudita.....

Na (erroneamente) chamada música clássica o contato entre o som e o público pressupõe algumas condições básicas. Não, não estou dizendo que a pessoa tem que conhecer a história da evolução da música européia desde a idade média até os dias de hoje pra gostar desse tipo de música.

A pressuposição básica é outra, mais sutil: a música erudita trabalha com um volume muito maior de informação. O resumo, no final das contas é esse. A quantidade de informações, de relações que estão presentes numa ópera, por exemplo, é absurdo: desde o libreto, as composições em si, a orquestração, a montagem cênica, a indumentária, a atuação do cantor-ator.....

E não é apenas a música (baseada num grande acervo de ideias e propostas): o próprio desenvolvimento dela propõe relações entre suas partes, relações entre os instrumentos. Isso sem falar no imenso campo que se abre aos intérpretes que podem tomar um concerto de Mozart e revivê-lo ao emprestar a ele uma nova roupagem acentuando elementos e minimizando outros.

Ivan Vilela, que fez faculdade de música comigo, me disse um dia que, na opinião dele a diferença entre música amadora e a profissional era o cuidado com os detalhes. Acho que dá pra aprofundar um pouco essa ideia e dizer que o grande diferencial da eruda com as outras manifestações musicais é que ela quer........tudo. Vamos escrever com harmonia complexa? Ok, então ela vai ser "A" harmonia complexa. Vamos escrever para um grande grupo instrumental? Ok, então vai ser pra uma orquestra com dezenas de músicos divididos em várias famílias (naipes). Vamos ter uma música com um tema que se desenvolve? OK então: pegue a 9.a de Beethoven e veja até onde isso pode ir!!!

O mesmo acontece com o jazz: o músico que o toca, como também quem o curte, passou  anos e até décadas estudando suas bases para depois reinventar o repertório estabelecido com interpretações pessoais. O domínio da música tonal, modal, técnica do instrumento, das harmonias das diversas tendências e escolas como também a ousadia em compor novos temas e buscar novas formas de os apresentar, sempre dentro do desafio de o fazer com a maior liberdade criativa possível, que é o que o improviso propõe.

O blues também acontece e cresce com o amadurecimento progressivo do músico e do ouvinte. Mas diferentemente do jazz, que tem um campo de atuação mais abrangente ao se utilizar de bases teóricas e técnica mais variadas, o blues permanece linkado ao sentido humano e histórico que essa música de resistência oferece. Veio de pretos pobres americanos como um grito por liberdade e justiça e ainda hoje o faz, mesmo que modernizado pela instrumentação e influenciado por outros tipos de música.

Logo se vê que mesmo havendo ouvintes de ambos os tipos de música - a que é de comunicação imediata e a que trabalha com um grande volume de informação - em termos globais, em termos de mercado, não serão os dois tipos de música que florescerão.

Na sociedade atual, urbana, industrial, capitalista e tecnológica, as manifestações culturais e artística que exigem que o usuário trabalhe com  um grande quantidade de insights simultâneos......bem, essas manifestações não vão prosperar. Simples assim.

Mas por quê acontece isso? Por quê a sociedade está tomando essa direção? Por que estamos caminhando em direção a uma música que ou fala a que veio nos primeiros 20 segundos ou é descartada?

Por quê estamos indo numa direção onde ou nos é dado logo de cara o que fomos buscar ou desistimos de o conseguir? Por quê, ao se exigir algum pequeno esforço de concentração e/ou trabalho mental, logo nos deparamos com a desistência?

A minha resposta a essas perguntas será dada na semana que vem.

Não perca!!!

Aliás, pra você não se perder mesmo, o resumo novamente com a (minha) nova definição que o texto de hoje traz:

1) Há formas de expressão musical que estão inequivocamente acabando.
2) Diferentemente de outras épocas, o fim dessas expressões não tem nada de natural. Há causas claramente discerníveis por trás desse fenômeno.
3) Não existe música ruim. O que você chama de música ruim é só música que você não gosta.
4) Alguns tipos de música (erudito, jazz, blues) trabalham com um volume enorme de informações.


Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam. Adeus.

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