quarta-feira, 26 de abril de 2017

O CD "O CULTO À CIÊNCIA" COMENTADO FAIXA A FAIXA - FAIXA 3 - MORTE E CANONIZAÇÃO DA SANTA JOANA DOS MATADOUROS

Lançarei um texto sobre cada uma das canções de meu primeiro CD, "O Culto à Ciência". Nesses textos contarei detalhes sobre o processo de composição e gravação além de curiosidades sobre o que me inspirou a escrevê-las.
  
Junto com esses textos, lançarei, a cada semana, um video lyrics em meu canal no youtube (procure por Wton) para que você acompanhe a música lendo a letra depois de ler o texto sobre ela. Experiência mais direta que isso só mesmo vendo o show. Em breve os convidarei para isso também.

MORTE E CANONIZAÇÃO DA SANTA JOANA DOS MATADOUROS
Minha aproximação com Brecht foi um efeito direto das leituras que fiz quando entrei pra UNICAMP. Acho que todos de minha geração, socialistas, leram alguma coisa dele.
As frases refinadas do texto como que se impuseram a mim para serem musicadas. A letra desta canção são os últimos versos da peça de Brecht "A morte e canonização da Santa Joana dos Matadouros".
Busquei acordes que fugissem do campo harmônico da tonalidade e brinquei com a alternância com um outro tom, 1 semitom acima. Acho que isso dá uma grande força à canção.
Cantei com toda a energia e força que tinha mas hoje vejo que poderia ter tentado um pouco de drive na voz. Mas para uma gravação caseira, sem uso de compressores e com a acústica adequada obtida através de panos pendurados nas paredes......foi o possível.
Eu compus o solo de guitarra mas, claro, não o conseguiria tocar, nem com muita prática e tempo. O Freddy Bueno pegou a partitura e o arquivo midi e o aprendeu em questão de horas. Tem uma notinha diferente do original mas mesmo assim acabou ficando melhor do que eu compus!
Sabe aquela história de nos aceitarmos integralmente? O lado lindo e o lado podre? Bem, essa compreensão começou com a leitura desse texto. Acho que há um tanto de Bocarra e de Joana em cada um de nós. Logo, serenidade, bom senso e amor, muito amor, para nos aceitarmos como um todo.

Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam. Adeus.


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quarta-feira, 5 de abril de 2017

O CD "O CULTO À CIÊNCIA", COMENTADO FAIXA A FAIXA - FAIXA 2 - "VIAGEM II"

Lançarei um texto sobre cada uma das canções de meu primeiro CD, "O Culto à Ciência". Nesses textos contarei detalhes sobre o processo de composição e gravação além de curiosidades sobre o que me inspirou a escrevê-las.
Junto com esses textos, lançarei, a cada semana, um video lyric em meu canal no youtube (procure por Wton) para que você acompanhe a música lendo a letra depois de ler o texto sobre ela. Experiência mais direta que isso só mesmo vendo o show. Em breve os convidarei para isso também.


Viagem II


Comecei a fazer essa música aos 19 anos. Fiquei encucado com aquilo de jesus falar dos lírios do campo e dos malucos usarem os lírios pra fazer chá. Cara, que paralelismo!
Já se via que eu ensaiava os primeiros passos que iriam desembocar no abandono da fé, primeiro da fé cristã e depois da fé ela mesma.
Tentei tocá-la quando minha banda de São José dos Campos, Áquila, resolveu navegar por um som autoral. Não rolou porque, se hoje SJCampos (Sanja) é ruim pra música própria, imagine a 25 anos atrás!
Interessante também que com o início de minha vida em Campinas e o respectivo período de "experiências químicas", os caras da banda não tenham notado que algumas das viagens citadas na música eram de natureza, digamos, não convencionais. Eles nem toparam tocar "Man in the box", do Alice in Chains por causa da letra anti-cristã mas tocaram Viagem II comigo sem levarem em conta algumas menções explícitas as drogas. Acho que Castanheda e Aldous Huxley foram as principais influências na construção da letra. Mas eu já estava me ligando na batalha política contra as regras sociais tacanhas que tentam limitar as experiências que você possa/queira ter em nome do produtivo e constante estado de consciência tradicional. Algumas sensações que experimentei na época só podem ser traduzidas me imaginando assim mesmo: alguma coisa aqui dentro precisa/quer liberdade. Porém, esta reles carcaça de carne e ossos impede.
Olhando retrospectivamente vejo que, pra minha surpresa, algumas das coisas que vivenciei e que foram decisivas pro meu jeito de compor, de viver, de reagir, vieram de alterações que nem foram provocadas por drogas ilícitas. Não sei se outras pessoas já passaram por isso mas, por exemplo, traçar um combo do Mcdonalds enquanto se ouve Metallica no talo, aos 23 anos, era o tipo de coisa que me deixava extremamente inspirado e desesperado por fazer algo diferente, algo excitante, algo fora dos padrões. Como compor, por exemplo. Talvez seja a avalanche de 2.000 calorias num só tapa. "Olhai os lírios do campo, talvez nem precise tanto....". É isso aí.
Dizendo de outra forma, sem ser cínico: viajar é bom. Sair do lugar é um saco. Nisso eu e Leminski estamos em sintonia .
E a música?
Bem, primeira vez que usei um acorde 7(9) num contexto hard rock.
Os timbres do início que acompanham as menções aos vários tipos de viagem: cara, não é incrível essa variedade de sons que dispomos hoje? Imagino Bach, Mozart ou mesmo Tchaikovsky produzindo com todas estas possibilidades atuais!
O solo foi composto e tocado pelo Freddy Bueno. E olha que eu encomendei algo fácil!!! O cara é realmente muito bom. Pena (pra nós) que ele parece estar deixando a música como segunda opção profissional pra se dedicar a outro de seus muitos talentos, as artes gráficas.
Esta música é incrivelmente boa num show ao vivo. Toda vez que a toco, noto que as pessoas simplesmente se entregam, embarcam, curtem muito. Mas, como sabem, falo isso baseado na meia dúzia de vezes em que a toquei ao vivo. Pena.


Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam. Adeus.


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