QUE VENHA O ÁLBUM PÓS "A TOTALIDADE...." O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL. SENÃO......"

Ao assistir a uma aula de Marcelo Gleiser sobre a crise na física do final do século XIX, a coisa foi ficando quente.

Ele falava sobre o episódio que ficou conhecido historicamente como a "catástrofe ultra-violeta".

Eu, que já adoro o assunto, fui ficando muito animado. Um pouco por causa das referências citadas que me são muito familiares mas por outro lado, o jeito que ele discursava começou a ligar uns pontos na minha cabecinha doente.

Comecei a enxergar que os termos que ele citava cabiam muito bem para a construção de um texto poético em que cada idéia usada no contexto da física poderia servir como metáfora para outros significados, estes de conotação sexual.

Fiquei, como sempre, em estado de ereção intelectual (como já dizia Dali) e comecei a anotar frases, termos, insights e tudo isso me animou muito. Comecei a vislumbrar uma canção do caráleo para o próximo disco (não este que vou lançar dia desses, um depois desse).

Mas não pude trabalhar nessa canção naquele momento. A porcaria da necessidade de comer e pagar as contas falou mais alto.

Voltei à ideia somente uns 15 dias depois e tive uma surpresa desagradável: aquilo tudo já não fazia tanto sentido. As ligações entre as coisas pareciam frágeis, as sugestivas imagens que as palavras suscitaram tinha se desvanecido e fiquei meio que perplexo com essa decepção.

O que noto é que inspiração é algo foda. Vital, energizante, divina até. Mas....ela passa por você, dá o ar da graça de sua existência e meio que te chama pra que naquele mesmo instante pule na garupa e saia galopando. Se você não fizer isso na hora....

Bem, pode ser que, quando eu me debruçar novamente sobre essas coisas, acabe voltando o viço, o brilho, toda aquela maravilhosa sacanagem de se fazer música misturando física e sexo. Mas a lição aqui é mesmo: esta vida é uma bosta. Eu TINHA que poder parar tudo o que eu estou fazendo NA HORA EM QUE A INSPIRAÇÃO APARECE e fazer uma música, um texto, um vídeo, sei lá, qualquer coisa. Qualquer coisa que segurasse não a essência criativa, isto é impossível. Mas pelo menos fazer algo que justificasse a passagem da Musa pelas minhas quebradas.

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A TOTALIDADE....- O INFERNO É AQUI (EM MIM)

Com tanta coisa contra - no sábado passado apareceu um chiado numa das caixas que eu não consigo identificar de onde vem - eu até me esqueço de contar coisas boas que acontecem.

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Por exemplo: estamos numa pandemia! É inegável que enquanto 120.000 brasileiros morreram e outros milhares sofrem (e sofrerão) dores atrozes por causa do vírus, há uma outra parte da população que acaba tendo algum ajuda em seu cotidiano.

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Eu, por exemplo, passei a dar aulas virtuais e isso fez sobrar muito tempo, umas 8 horas por semana. Fora que estou só com 10 alunos virtuais, com uns 8 ou 10 só esperando o fim do isolamento pra começar a ter aulas.

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É com essa economia de tempo que o CD está avançando. Se o corona não tivesse atacado, acho que eu estaria ainda terminando os arranjos! Provavelmente devo acabar os vocais antes que entremos na fase verde e que tudo, dessa forma, entre mais ou menos na normalidade.

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Bom né? 

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Sim. Só que agora vem o maldito, filhodaputa, desgraçado do calor. 

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Meu quarto tem cobertores e edredons em todas as paredes e tapetes no chão. Tenho que fechar tudo pra ter algum controle acústico e isso faz com que o cômodo esquente muito e rapidamente. Em 10 dias a amplitude térmica no Brasil foi de 65 graus. E dessa forma, damos tchau ao minúsculo inverno e entramos gloriosamente no inferno onde terei que gravar por no máximo 1 hora (e olhe lá!) com pausas de meia hora pra conseguir respirar.

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Então, é por coisas assim que duvido se terei energia pra fazer outra peripécia desta, outra gravação amalucada de um CD com as condições que disponho.

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Não sei como resolver isso porque não preciso resolver só um aspecto da gravação e sim tudo que cerca o processo: o espaço, o equipamento, a acústica, a temperatura, a limpeza, os instrumentos, o know how em mexer nos softwares, a técnica, a energia, a emoção, a interpretação.

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Exausto. 

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A TOTALIDADE – ME FU

Mais precisamente, me “Pato Fu”.

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Acabei descobrindo com o tempo, ouvindo os discos dos caras, que eles são a grande banda injustiçada da história da música pop brasileira. Meio que como o Talking Heads, que, se houvesse justiça no mundo, seriam muitas vezes maiores do que realmente foram.

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O paralelo que traço é a coragem e a criatividade de ambos os grupos. A única diferença é que o TH teve por vários anos fama mundial e o PF só conseguiu projeção entre a cena roqueira brasileira e assim mesmo entre os que gostam de sons alternativos.

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Eu fico pensando como eles fazem pra gravar um disco. Será que tem um home studio fodástico e já saem dali com a master totalmente pronta, até masterizada? Ou alugam horas num estúdio profissa, contratam músicos e técnicos e só tocam e cantam?

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Não sei, mas eu caio sempre na tentação de achar que eles, mesmo sem o reconhecimento merecido, acabaram ficando suficientemente ricos para poder fazer o que quiserem. Tipo gravar em qualquer estúdio, demorando o tempo que quiserem, trabalhando com os melhores profissionais do mercado.

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Eu me fu como o Pato Fu porque penso no meu som como o deles: cheio de informações interessantes mas que será ouvido por poucos. 

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Que bosta.

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A TOTALIDADE.....- É SEMPRE O PRAZER

Então........melhoramos!!!

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Não, as gravações das vozes não estão nem perto do que eu imaginei que ficariam mas tenho que admitir que estão ficando melhores a cada dia que passa. Acho que estou pegando o jeito. Estou aprendendo a mexer com os detalhes do equipamento, com a preparação geral e com a  técnica vocal. Essas coisas fazem a diferença.

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Fico puto, mais muito puto mesmo, com os paus que o equipamento dá e que atrasam tudo. É a bosta do driver da placa que não fala com o Windows ou a porcaria do driver ASIO4ALL que fica dando atraso ou cliques. Depois desse disco, se eu voltar a gravar algum dia, vou ter certeza de que terei o melhor equipamento possível pra evitar esses transtornos, nem que eu tenha que esperar mais para o ter (por causa do custo, claro).

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A técnica vocal é algo que, nossa, que surpresa, vem melhorando porque estou realmente fazendo 30 minutos todo dia e nos dias de gravação, 1 hora. Ela não só prepara pra a gravação mas dá o aquecimento para a performance que é, sem dúvida nenhuma, o que está mais contribuindo para o crescimento do nível dos takes. Nunca mais vou parar de fazer. Se o bolso deixar, claro. Se aparecer alunos ou trabalhos pra fazer na hora da técnica, ela dança. Fazer o quê? Sou pobre.

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As preparações envolvem picar maçã sem casca, montar algumas coisas que não dá pra não guardar depois de cada sessão, limpar o quarto, esperar o momento propício pra se ter o menor barulho possível na casa, ameaçar as cachórras quando elas destrambelham a latir e coisas do tipo. Essas coisas cansam e desgastam muito.

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Mas......pra dizer a verdade, descobri o "grande" problema: ouvindo uma das músicas em forma de demo, notei que o canto tava alegre, leve, emocionante, apaixonante até. E ao gravar o mesmo trecho, com ambiente acústico melhor e microfone muito melhor, na maioria das vezes o resultado nem chega perto daquele da demo.

E sabe por quê? Sim, o tesão, o prazer.

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Quando eu estava compondo essas músicas (e as arranjando simultaneamente), experimentei algo como o céu na Terra: liberdade para criar, para ousar, pra me exprimir, pra botar nos tracks do programa o que eu quisesse, o que eu achasse que valia a pena, o que eu acho que é importante pra mim. Se não for assim, não vale a pena fazer, mesmo que desse muito dinheiro.

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A gravação dos vocais deveria ser um momento de prazer também.

Não está sendo.

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A TOTALIDADE....- A OBRIGAÇÃO DE VIVER

Lá vou eu explicar melhor essa história novamente. Não é nem uma história: é simplesmente auto-conhecimento dando o ar da graça. A descoberta de que a imagem astrológica de que o pisciano é alguém que se refugia dentro no alto da torre de mármore – figura para um mundo interior imenso e acolhedor - em mim é plena verdade.

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Isso, porém, além de uma mera característica pessoal, está muito mais para um guia de ação para a minha forma de viver. Mais do que ação: inação. O problema é que a sociedade, as pessoas, a estrutura

da vida, não gosta muito dessa tal de inação.

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Somos julgados não pelo que somos e sim por aquilo que produzimos, que supostamente mostraria o que somos. As pessoas chamam isso de vida.

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Digo não a isso porque, primeiro, a produção artística de alguém não mostra nem de longe como essa pessoa é por inteiro. Num exemplo prático, diria que o Chico é tudo aquilo que ele fala nas músicas – terno, doce, inteligente, sensível – e muito mais. Porém, nesse muito mais cabem outras características bem menos agradáveis. O todo de alguém jamais é expresso em sua obra.

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Em segundo lugar, acho que as pessoas deveriam, de alguma forma, serem aceitas, conhecidas, acolhidas pelo que são, independente de qualquer coisa. Depois vem tudo o que produzimos.

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Noutras palavras, eu daria um bom presidiário, ermitão ou religioso monástico porque me viro muito bem com meu mundo exterior.

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Me viro tão bem que apreender a essência das coisas já me é suficiente. Mesmo que eu não as pratique.

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E faço isso com a música: estudei com afinco Contraponto, por exemplo, com Lívio Tragtemberg. E entendi bem as ideias por trás da técnica. Só que não queria fazer os exercícios. Imaginem como o processo foi complicado visto que ele tinha que me dar nota baseado na escrita de inúmeras linhas musicais simultâneas que eu entendia mas não estava a fim de praticar.

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Com a técnica vocal foi a mesma coisa: a entendo, a indico, treino pessoas para a porem em prática mas só agora, 2 meses depois de começar a praticar todos os dias por 30 minutos pela manhã e em alguns dias, mais trinta à tarde, é que eu estou conseguindo obter os primeiros resultados positivos na gravação dos vocais das músicas do CD.

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Tenho que praticar alguma coisa nesta vida. Isso é um saco.

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Eu queria só viver mesmo. Viver do jeito que eu entendo a vida, claro.

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A TOTALIDADE... - LIVES, A TÁBUA DE SALVAÇÃO?

Parece que estou enchendo linguiça mas este tema realmente não está saindo de minha cabeça. Não há nada no horizonte próximo pra dar alguma esperança. Então, nos agarramos aos nossos palpites mais prováveis (baseados em suposições, claro).

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O Jimmy me disse  dias atrás que, baseado no que ele anda conversando com os amigos, essa coisa de live realmente veio pra ficar e não vai parar mesmo depois do fim do isolamento.

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Então estou trabalhando na minha live. E, olha, dá um prazer do cão fazer isso. Mas dá prazer porque eu estou me preparando pra tocar só as músicas que quero. Vou vender a ideia de que, quem quiser conhecer melhor o cara por trás de "A Totalidade sem Costuras", ouça as músicas que fizeram a cabeça dele.

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Isso é legal porque como sabe até o mundo vegetal, tocar músicas que se gosta é um dos grandes pequenos prazeres da vida. Mas há um problema aí: as lives de hoje são feitas por músicos da noite que perderam seu sustento por não terem mais aonde tocar. E daí ele levam o repertório que faziam na noite para a rede. E então é aquela chuva de RaulZéRamalhoJQuestetcetcetcetc. 

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Não quero competir com esses caras, muitos deles meus amigos. Mas, na boa, não é nem não querer competir: eu não tenho como competir, fazendo uma live nos mesmos moldes que eles fazem. Eles ficam décadas tocando um determinado grupo de músicas, centenas delas, as dominam, as tem de cor, interpretam bem cada nuance das canções.

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Eu sou um professor que tem entre seus alunos amantes da música mas nada que me obrigue a desenvolver um repertório "pra noite" muito extenso ou atualizado.

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Eu quero mesmo é fazer o que gosto que, no caso de lives, seria tocar Radiohead, Queem, Yes, Alice in Chains, Mutantes, MPB do meu tipo e outras excentricidades que me chamam a atenção tipo algum gospel ou músicas inusitadas.

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O povo vai pagar pra ouvir? Sendo bem sincero, acho improvável. As pessoas estão acostumadas a verem um músico tocando e já mandarem um guardanapinho com um pedido de música. Será que terão a paciência, ousadia, saco, coragem de pagar pra ver alguém tocando só o que gosta?

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"Ah, cara, que pedantismo: toca o que o povo quer ouvir!!!".

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Não, obrigado. Já estou de saco cheio de fazer isso. Ou me apresento fazendo o que acredito ou nem vou. Parece arrogância mas é só uma pessoa cansada mesmo.

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Em março de 2021 faz 40 anos que eu estou trabalhando sem parar. Não tô mais pra ficar dando uma enésima interpretação de Chão de Giz e congêneres, por melhores que sejam.

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A TOTALIDADE...- ´NIGHT, MOTHER

Vocês já viram esse filme?

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Tem a ver com essas coisas que eu tenho considerado nos textos anteriores. A protagonista, Sissy Spacek dá um show de interpretação mas a premiada foi a coadjuvante Anne Bancroft. O filme fica praticamente o tempo todo no diálogo entre as duas.

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Tenho pensado aqui em voz alta sobre o sentido da vida, a motivação que nos leva a fazer coisas e na inutilidade de se viver caso não se esteja conseguindo fazer aquilo que é o que você deve fazer.

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Então, nesse filme, a protagonista deixa essa ideia bem mais direta, palpável, cotidiana. Não é uma luta pra se vencer o que é imutável: isso seria inútil. É mais você compreender esse imutável e decidir se tornar um com ele. Sei que essa frase parece  de um pedantismo execrável mas, pense, é a consequência lógica do caminho das pessoas na vida.

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Um escravo egípcio, há 2.000 anos atrás, ao ver que sua vida seria só carregar pedras pra construção de pirâmides até que morrer de exaustão lá pelos 30 anos, poderia (eu diria deveria) se decidir por não aceitar isso e tirar a própria vida. Não há prejuízo nenhum para a construção mem pra ele. Seus restos mortais irão, inclusive, de uma forma ou de outra, virar matéria prima pra outras construções.

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No filme em questão, a personagem fala da inutilidade de se contar com a mudança das pessoas e na impossibilidade de se mudar nossa essência. Logo, com os inevitáveis e insuportáveis choques, conflitos e decepções, a saída de se abreviar tudo não é nada mais do que uma decisão que pode até ser classificada como ponderada. Você pode estar irremediavelmente cansado de jogar.

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Uma amiga, há muito tempo atrás, me contou uma história de que um conhecido viajou para um país islâmico com a esposa. A mulher resolveu sair pra andar sozinha pela cidade e nunca mais foi vista. Quando o marido, cansado de a procurar, totalmente desesperado com a situação, já estava quase enlouquecendo com a situação, ouviu de um policial que aquilo era até comum: mulheres ocidentais

desacompanhadas eram raptadas pra virarem mais uma esposa de alguém.

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Eu fiquei pensando naquela mulher por muito tempo. Ela certamente passou meses ou anos tentando fugir. Deve ter sido vítima de toda sorte de violências. Estupro, surras, ameaças, humilhações. Acho que quando ela viu que não tinha mais como escapar, provavelmente pensou e pode até ter conseguido se matar. Não valeria nada ela continuar vivendo com a consciência de que nunca mais voltaria à sua vida de antes.

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Olha, eu ganho bem, várias vezes mais do que a média que ganha uma família brasileira típica. Tenho superior completo num país de analfabetos funcionais, tenho muitos amigos, tenho uma sensibilidade e inteligência suficientes para os meus interesses e para alguém com 53 anos, sou (surpreendentemente) saudável.

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Mas me sinto raptado. Ainda não sei por quem.

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A TOTALIDADE....- O PREÇO QUE SE PAGA POR SE VIVER NUM PAÍS DE IGNORANTES.

Soou arrogante, não? Continue lendo, deixe que eu me explique melhor.

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Sim, eu pago um preço alto por viver num país onde a população não tem cultura científica,

humanística, literária, fílmica, musical. Mas, quer saber? Todos nós pagamos caro por isso.

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Tratar a maior crise de saúde mundial que o planeta já passou do jeito que os brasileiros

tratam é simplesmente não ter cultura básica sobre Biologia, Estatística e Economia.

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Tratar a violência como algo trivial e natural é algo que o brasileiro faz por não ter o mínimo

de educação sobre Direitos Humanos, Direito e Leis.

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Tratar temas sociais e políticos como assuntos que podem ser mediados por uma fé

fundamentalista demonstra que o povo simplesmente não sabe o que significa a laicidade do

Estado, pra que serve e que ela, no fundo, protege a fé deles mesmos.

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Tratar comportamentos humanos, sexuais ou os que se referem a outros tipos de relacionamentos entre as pessoas, com algo que possa ser  regrados por tradições  e conceitos puritanos antigos é não saber nada sobre História, Sociologia,  Psicologia e Ética.

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Eleger quem avisa na campanha que vai tirar direitos trabalhistas do próprio eleitor é não entender

nada de Política, Economia (de novo) e também ser um pouco burro mesmo.

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Então, eu ficar embasbacado com a boniteza que os temas científicos tem, criar canções

e as lapidar da melhor maneira possível........bem, isso é, no final das contas, uma grandessíssima punheta mental e emocional porque as pessoas simplesmente não tem ferramentas pra entender o que está sendo dito.

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Não vou simplificar o assunto dizendo que a “culpa” de não curtir minhas músicas é do povo. Isso seria

admitir alguma utilidade para esse odioso conceito cristão – culpa, culpa, culpa!!!

O povo é vítima. E quando a vítima sofre uma perda considerável de alguma coisa – o direito à educação de qualidade por exemplo – outros pagarão o pato, além deles próprios.

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Eu, no caso.

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A TOTALIDADE...- YÕNLU

Esse carinha não tá saindo da minha cabeça.

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Dá um google aí pra ver a história dele. Tem até um filme que fizeram sobre. Tá em alguma plataforma de streaming.

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Então, desde que li sobre Yõnlu, do nada comecei a travar longas conversas mentais com ele inicialmente tentando entender suas motivações e depois tentando dissuadi-lo de agir como finalmente acabou agindo.

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Sim, eu sei que isso é bem insano. O cara já era. Mas acho que pra mim serve mais como um exercício de auto-convencimento. O rapaz, jovem, rico, talentoso e esperto tinha que dar certo, concorda? E em sua agora impossível trajetória de sucesso outras trajetórias poderiam se espelhar, tipo a minha.

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Acontece que agora parece que ele está me convencendo.

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Olha, me sinto bem incapaz do suicídio. Não tenho nenhuma atração pela dor. Não fico mentalizando o sofrimento, antevendo em detalhes os momentos que precederiam minha morte. Só acho que quando se desiste, a morte chega. De uma forma ou de outra. Se você desiste, não precisa nem pensar em se matar: você já morreu mesmo. O fim do ego embalado no corpo físico é questão de tempo.

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A coisa tá diferente por estes tempos. Parece que eu estou tendo uma compreensão mais clara, mesmo que mais mórbida e triste, da realidade de tudo. 

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Estou chegando à conclusão que o velho Salomão poderia ser, vejam só, o único que realmente sacou a parada com profundidade: tudo é vaidade.

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Fazer uma música que eu ache foda, fazer um show que acabe com as pessoas (sou capaz disso, claro), tocar por aí periodicamente e nessas horas tocar as pessoas, fazer vídeos que quebrem alguma coisa do padrão engessado dos videoclips musicais, escrever textos que mostrem minhas posturas diante das coisas da vida.........vaidade. É só vaidade mesmo. Não tem outra palavra.

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Outros podem dizer que é a "necessidade vital de expressão artística", ou "você só vai pro palco pra comer o maior número de pessoas que puder" ou "a Cultura está sob assalto e cabe aos artistas conscientes lutarem por ela produzindo música, texto, performance e imagens que chacoalhem o sistema". Mas tudo isso é, no final das contas, só vaidade.

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Faço a ressalva que tudo o que citei no parágrafo anterior pode ser válido no contexto de vida em sociedade, em termos de evolução da espécie, mas olhando do ponto de vista da vida do indivíduo em si......ah, hoje em dia não consigo nem mais acreditar que alguém faça Arte motivado por algo diferente de vaidade.

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E se for realmente isso, meu amigo, Yõnlu, acho que eu é que estou errado de estar aqui.

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A TOTALIDADE...- VOCÊS ESTÃO MUITO ENGANADOS A MEU RESPEITO!!!

Estou atravessando esta fase maldita e tenho ido a lugares emocionais tão deprimentes que nem tenho conseguido os descrever direito.

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Porém, eu ainda tenho melhoras. Agora, por exemplo, o sentimento de que a morte está à espreita e que é uma questão de tempo até que um acidente ou algo psicossomático acabe comigo.....bem, isso tudo está mais distante neste momento.

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O que é bom por um lado porque tenho a impressão de que não dá pra classificar o que estou sentindo como uma depressão clássica, clínica, definitiva. Tenho experimentado horas agonizantes mas elas tem passado e acho que quem tem realmente "A" depressão não consegue fazer com que ela passe.

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Pensei, por exemplo, em me organizar melhor nesta semana visando as gravações de quinta, sexta e sábado. Vou treinar as músicas por vários dias, fazer mais técnica vocal ainda, preparar as canções a serem gravadas com mais cuidado ainda em termos de volume de retorno de voz e de instrumentos, tomar menos café para evitar o refluxo, cantar as músicas que estou preparando da demo por pelo menos meia hora por dia e tentar deixar tudo muito bem montado antes dos dias de gravação para não perder tempo.

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Estes pensamentos e ações não parecem ser de alguém com depressão clássica.

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Mas também sei que este é mais um momento e que os sentimentos ruins vão voltar. Fiquei muito triste também porque pensei muito no Caco Kren e na opção de vida que ele fez. Bem, não foi muito uma opção de vida que ele fez, não é mesmo?

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E antes que você comece a me encher o saco dizendo coisas como "ah, coitadinho dele, tá com auto-piedade por não estar conseguindo gravar as vozes direito...." eu lhe digo que não é só isso, cara. As dificuldades que atravesso são só uma das muitas pontas do iceberg. Aliás, como são afiadas e ferem essas pontas.

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O terror que destrói a energia criativa é mais devido à falta de perspectiva mesmo. Se eu estou nesta luta insana, perdendo todo o tempo do mundo só com uma fase do projeto, como vou me sentir depois que eu o tiver completamente pronto e não ter nenhuma forma de o veicular, de fazê-lo chegar a quem interessa?

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Os psicólogos dizem muito besteira. Dizer que ajuda falar sobre nossos problemas é uma delas. Alias, só piora.

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A TOTALIDADE.... - SANGRANDO....

Gurus de auto-ajuda vaticinam que nós "criamos nossa própria realidade" e que as doenças, na verdade, "são geradas por nós". Vai longe o tempo em que eu dava crédito absoluto pra esse tipo de opinião. Não que eu não pese as coisas e não consiga tirar alguma verdade até desses exageros mas é claro que às vezes eles vão longe demais. Ou seja, você pode estar desesperado de vontade de ficar longe do corona vírus mas se você entrar em contato com ele.....Bem, seus pensamentos no tocante aos resultados da infecção vão valer bem menos do que uma boa dose de cuidados médicos tradicionais.

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Digo tudo isso porque agora há pouco fui abrir a seringa pra dosar 1 ml de xarope pra minha cachórrinha Chatellet e consegui a proeza de enterrar a agulha no meu polegar. Ela o atravessou completamente, entrou de um lado e saiu pelo outro.

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Na boa, vejo isso como uma simples e saudável manifestação do desejo inconsciente de morte. É como tenho dito: não tenho a mínima vontade de fazer nada que não seja o que realmente gosto: fazer minhas músicas, as gravar, criar e filmar vídeos legais e apresentar tudo isso por aí. Escrever também é algo importante mas vem junto e misturado com a música.

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Então, se não der pra fazer isso, bem, não estou mais interessado. Vou ficando por aqui mesmo, já são 53 anos vividos, muita coisa experimentada e criada e mesmo sabendo que haveria aí mais 30 ou 40 anos pra continuar, se for pra viver fazendo coisas desinteressantes.....tô fora.

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Olha, demorou tempo pra eu verbalizar isso. Já estava meio que consciente disso há tempos mas a ideia de que a morte seja o grande vilão, o terrível destino da qual todo humano luta desesperada e inutilmente escapar, isso pra mim mudou.

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A vida não tem sentido. Nenhum. Vou querer ler mais um texto sobre quântica pra quê? Em alguns anos isso terá um fim mesmo. Vou ouvir mais uma discografia ou conhecer mais profundamente os quartetos de Beethoven pra quê? Com a morte tudo isso se apagará de qualquer forma.

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Um amigo de uma amiga, antes de morrer de um câncer terminal aos 19 anos, disse que queria tomar iogurte. Fiquei encafifado com aquilo: mesmo pra quem acredita em vida após a morte, matar essa vontade não tem significado nenhum em si.

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A não ser que tudo o que eu assimilasse fosse devolvido ao mundo de uma outra forma, com minha visão dessas coisas. Aí sim, vejo um sentido mesmo que ele seja voltado para a espécie humana como um todo, não pra mim individualmente. 

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E, pelo visto, é muito improvável que eu consiga fazer com que minha expressão aconteça. Posso até compor mas isso pode ficar na gaveta. Passei da 1.a fase - expressão - mas não consegui entrar na 2.a fase - exposição. A 3.a fase - reconhecimento - é algo muito mais remoto ainda. Tem gente a anos-luz à minha frente e não tem esse reconhecimento.

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Acho que esta agulhada é um aviso. Só posso dizer que eu entendo o aviso mas não posso fazer nada a respeito. 

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A TOTALIDADE....- É, BATEU....

Do jeito que as coisas iam, era uma questão de tempo. Não é mais, chegou. Bateu a deprê.

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Bem, se você leu outros textos recentes, viu que as coisas não estavam indo muito bem mas com uma avalanche de notícias desagradáveis, desabei mesmo. 

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Hoje, com tudo montado, o aprendizado de outras sessões de gravação de voz e o dia todo pela frente pra produzir, não estou conseguindo fazer nada.

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A depressão em mim se manifesta de um jeito engraçado: cansaço, tristeza, procrastinação, lentidão, dor no corpo, desconcentração e finalmente o choro.

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Ideias de morte tomam conta e começo a não conseguir evitar o pressentimento de que eu não vá conseguir terminar o CD. Parece que estou no final porque já gravei quase todos os instrumentos e as vozes são as últimas coisas a gravar mas, acredite, falta muita coisa ainda.

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O maior mistério é que minha energia pra produzir coisas boas é muito, mas muito mesmo, menos eficaz do que pra produzir acidentes e situações perigosas pra minha saúde.

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Fiz exames laboratoriais e descobri que estou no limite tolerável de dois índices que, quando apresentam problemas, apontam pra doenças no pâncreas e fígado. Nem pra dizer que essa situação me trouxe transtornos e sim que transtornos causaram essa situação. Somatização, só isso.

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O mais irônico é que a pandemia.....ah, que pandemia que nada: não via perspectivas de avanço pra minha carreira antes da pandemia e não vejo agora. O isolamento social, a quarentena, a pandemia, não alteraram em nada as coisas.

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Não sei o que fazer. Talvez parar tudo por dia (e perder tempo, o que realimenta a deprê).

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Sem energia pra dar a volta por cima.

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A TOTALIDADE...- ATÉ QUE ENFIM, UM TÚNEL NO FINAL DA LUZ!

Parece que (parece, veja bem!), se eu deixar os instrumentos bem baixos e a voz guia também.....parece que a qualidade da gravação do vocal melhora muito.

Isso é uma surpresa enorme porque eu achei que no início do processo de gravação das vozes oficiais o volume de retorno estava adequado.

Porém, depois de tantos problemas e tentando de tudo um pouco, no sábado a tarde, no apagar das luzes, nos estertores das forças, alguns takes com qualidade visivelmente superior vieram.

Não foi o suficiente pra eu achar que "agora vai" mas deu esperança.

Aconteceu uma coisa muito interessante, meio insana até, nestas gravações: a demos estão muito boas! Assim: a qualidade de captação do som tá horrível - microfone dinâmico, sem acústica, feito às pressas - mas a energia e vitalidade e pegada das interpretações estão ótimas!

É mais aprendizado: quando a gente tá numa fase muito boa de alguma coisa - e a fase de composição das músicas deste ATSC foi uma das melhores fases que eu já tive na vida! - parece que há uma mágica qualquer em todo texto, interpretação, ação ou mesmo ajuste que fazemos.

Eu posso até sentir a mesma emoção que senti quando estava compondo as músicas que estou agora gravando. Os mesmo pensamentos, as mesmas sacações, a mesma sensação de que quando ouvirem algumas das coisas do disco, todos ficarão abobalhados (se não ficarem também é porque é todo mundo burro)! Ih, agora vi que por estar escrevendo no PC não tem aqueles emojis com a carinha piscando um dos olhos...

Mas então, é mais ou menos isso: já gravei um terço das músicas, todas ficaram, na melhor das hipóteses, uma bosta, vou ter que refazer tudo de novo e tenho que fazer isso antes que chegue o verão. Qualquer temperatura acima de 25 graus já impossibilitará que eu grave por mais de 2 horas seguidas. Isso certamente jogaria o fim do CD pra 2021. 

Ou 2027, sei lá.

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Todas as coisas contribuem para o bem dos que amam. Adeus.
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A TOTALIDADE....- MUNDUS CREATUS EST

Ontem fiz gravações que me deixaram bem animado. Peguei meu querido TS12 no conserto, sou apaixonado por esse teclado. Foi um dia com essas poucas mas boas notícias.

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Hoje, ouvindo num outro equipamento a música que gravei ontem, vi que ficou uma bosta. Daí vim gravar hoje e a música ficou ruim também.

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Já não estou com energia nem pra correr atrás do que estaria acontecendo de errado. Imprecisões, desafinações, interpretações muito forçadas, timbre desinteressante e por aí vai.

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O pior é que se algum aluno ou amigo disser pra mim que está com os problemas que citei, para cada um deles eu teria muita coisa pra dizer visando ajudar a resolver o problema.  Mas não está dando certo pra mim.

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O que é extremamente desagradável é que eu tive que gravar guitarras, violões e baixos por pura falta de dinheiro pra pagar alguém pra gravar pra mim. Então, não ficou  tudo aquilo que eu queria que ficasse, claro. Não desenvolvi a técnica de nenhum desses instrumentos.

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Mas eu achei que, chegando na voz, a coisa ia tomar outro rumo, um rumo espetacular.

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Então, não tá tomando. 

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Será tensão? Será equipamento ainda fora da configuração adequada? Será necessidade de mais técnica vocal diária além da hora que estou fazendo TODOS os dias? Será que pela falta de trabalho onde eu tinha que cantar, vai demorar muito tempo ainda pras coisas ficarem fáceis, normais, adequadas?

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Não sei, quem sabe um pouco de cada. 

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Vou continuar tentando até porque não tenho outra opção. Mas meu pique, ânimo, energia, interesse estão perigosamente num nível crítico.

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Não acredite em ninguém que lhe citar um texto bíblico pra tentar te animar.

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A TOTALIDADE... - PORQUE APOSTO TANTO NOS SHOWS

É algo pra se confessar, admitir, aceitar: eu acho que seria nos shows que eu poderia me dar bem simplesmente porque é ali que você posso pintar as coisas com cores que fazem a mensagem ser mais bem digerida, até mesmo por quem não gosta do prato.

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A mensagem, ora bolas, me desculpe, mais sou eu mesmo, claro. Antes que você caia babando no chão, se debatendo de raiva deste petulante que vos fala, pense apenas no seguinte: o objetivo sempre foi mostrar o que EU sinto diante da Ciência. 

O objetivo não é mostrar a Ciência em si, as músicas não tem caráter didático apesar de as querer o mais fiel à verdade científica possível.

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O objetivo também não é somente ver as composições em si. Muitas delas, eu sei, tem uma forma, arranjo, timbres, harmonias e interpretação muito  boas mas também não é isso. 

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O objetivo é compartilhar o maravilhamento que sinto. Não apenas o objeto que causa o maravilhamento nem os canais para esse maravilhamento e sim o sentimento de profunda veneração diante da beleza de idéias da Física, Matemática e Filosofia, embaladas na melhor poesia que se possa tecer.

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Então, pra que não se fique 3 horas sentados vendo um artista falando maravilhas das idéias de Everett, Bohm e outros pensadores, façamos um show!

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Que cause overdose de luzes, movimentos, sons e sensações. Tudo pra que o público compre a ideia.

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Você pode dizer que todos fazem isso: o melhor show possível pra ganhar curtidas, visualizações e compartilhamentos (antes era pra vender CDs). 

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O bagulho aqui, porém, é mais louco: fazer um puta show pra ganhar o que citei falando daquilo que as músicas de grande projeção falam é uma coisa. 

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Conseguir grande projeção para a ideia central deste projeto - MARAVILHAMENTO DIANTE DA CIÊNCIA - é outro papo.

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Ah, já ia me esquecendo:

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A TOTALIDADE.....- A CONTA CHEGOU......

Na verdade, o que está saindo errado na gravação das vozes é algo fácil de explicar.

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Saí da noite há décadas atrás. Ou seja, cantar ininterruptamente por 3 ou 4 horas algumas vezes por semana é algo que não faço há muito tempo. O que se adquire nesse tipo de prática NADA por repor.

Me lembro de tocar com o Cubo Mágico toca quinta feira por 4 meses num bar em Campinas. No 1.o show, boca colada no microfone, me esgoelando, todos reclamando da minha voz e saindo cansado e rouco. 3 meses depois, cantando a 1 palmo do microfone, voz super bem colocada, timbrada, cantando sem fazer força, deixando a técnica se aliar à expressividade. Foi uma das mais fantásticas experiências como músico que já tive.

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Outra coisa: só dou aulas de canto para principiantes e, portanto, minha tendência é correr atrás de material de estudo para o nível deles. É gente que gosta de fazer isso mas não consegue treinar mais que 15 minutos por dia, quando muito. Sim, eu deveria ter um tempo pra cuidar deles e ir atrás de exercícios mais avançados pra minhas necessidades. Deveria mesmo. Porque não faço isso?

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Será que o fato de ser 10 anos mais velho do que era na época em que gravei as demos deste disco estão fazendo tanta diferença assim? Porque as vozes na demo estão pessimamente captadas mas são exuberantes do ponto de vista estético/técnico. Não sei dizer, eu sempre achei que estava melhorando muito com os anos, principalmente se for ver coisas que eu consigo fazer com a voz hoje e não fazia anos atrás.

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As músicas deste álbum são mais difíceis que as de "O Culto à Ciência". Sim, sem dúvida. Será esse o problema. Tá difícil de eu acreditar nisso. Tendo a achar que é uma desculpa.

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Será que há algo mais pra tirar do equipamento que não estou conseguindo? Por exemplo, ontem notei que se eu for gravar a voz definitiva ouvindo a voz da demo, tem uma latência, um atraso na voz que está sendo gravada. Será que isso está acontecendo de uma forma pequena, quase imperceptível, e está me atrapalhando desde o início das gravações e eu nem notei?

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Será que minha energia vital tá melhor pra tudo menos pro sexo e pro canto? Só faltava essa, né? Pique pra exercícios, pra dar aulas, pra sair, pra tudo menos pra coisas cruciais?

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Ah, não sei o que fazer. Vou ver se resolvo a porcaria da latência.

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Olha, amor puro, verdadeiro e cristalino é lindo. Mas não resolve tudo. Mesmo assim:

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A TOTALIDADE....- ME FALTAM PALAVRAS !!!! (NA VERDADE, ME FALTAM PALAVRÕES)

Filho de uma puta! Não, eu respeito as profissionais do sexo, não posso dizer isso.

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Vai tomar no cu! Também não: amigos homossexugays me disseram que isso não pode ser considerado uma ameaça/xingamento nem para héteros uma vez que prazer anal não deveria ser exclusividade do povo LGBTQI+.

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Idiota! Mas e se a idiotia for algo relacionado à condição fisiológica mental do indivíduo? Não, não posso usar esse termo também.

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Imbecil! É uma variação do anterior com o agravante que às vezes se tem comportamentos imbecis simplesmente por falta de informação.

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Como você pode ver, xingar alguém é algo bem difícil, se você quiser fazer o trabalho direito. 

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Os xingamentos, no caso, são pra mim mesmo. Não estou conseguindo levar numa boa os resultados das gravações do vocal. Simplesmente não estou conseguindo cantar do jeito que tem que ser.

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Veja que eu estou dizendo do jeito que tem que ser, não do jeito correto nem de um jeito bonito. Tem que se de uma forma e eu não consigo executar.

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E daí, 40 anos de prática, dezenas de alunos de canto, centenas de livros e artigos, aulas e mais aulas com gente do calibre de Niza Tank, Adriana Giarola, Suzel Cabral pra.....quase nada!

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Estou perplexo. Hoje vou tentar começar com as músicas que são mais porrada porque nas que tem que ter mais detalhamento, nuance, leveza, suavidade, toque.....nessas, se eu disser que tá uma bosta, estarei me elogiando.

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A TOTALIDADE.... - VOCÊ SABE LER SEU INCOSCIENTE?

Eu acho que sei. O meu, claro.

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Eu faço anotações pormenorizadas de cada coisa que acontece nos dias de gravação. Vez por outra, erro a data. Hoje, por exemplo, vi que anotei a data anterior errado: pus 11.07.10, errei o ano.

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Daí fico com a certeza de que estou mandando uma mensagem pra mim mesmo tipo "olha, você começou a fazer este disco em 2010......Já pensou se tivesse insistido mais, se dedicado mais,  priorizado mais a produção?"

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Mas lá vem aquele maldito senso de realidade que, na verdade, está mais acabando comigo do que me dando paz! Ele simplesmente diz: "ah, você fez o possível, na época seu crescimento pessoal só permitia que você fizesse o que fez. E assim chegamos aqui. O que você vai fazer agora com o que aprendeu neste processo?"

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É difícil discutir comigo mesmo quando eu noto que eu estou tão coberto de razão.....

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Outra coisa que eu sempre faço é ver a história dos artistas e comparar o que eles estavam fazendo em determinada época com o que eu estava fazendo. Este é o caminho para a perdição porque sempre fico com a impressão de que nada estava acontecendo comigo enquanto tudo rolava lá fora.

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Sei que estou sendo repetitivo mas, Sr. Blog, você virou diário e aí tem que aguentar tudo o que eu escrever. 

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Sempre que me vem à mente, como sei que acontece com os outros, aquela velha questão do que faríamos caso pudéssemos voltar no tempo e reescrever nossa história, imagino que, caso eu tivesse a cabeça que tenho agora, seria tudo revolucionariamente diferente. Mas sabe de uma coisa: talvez não. Talvez um eu muito lúcido há 30 anos atrás, mesmo sabendo o que fazer por já conhecer o futuro, não conseguiria implementar grandes mudanças simplesmente porque o tempo em si, aqueles momentos, aquelas conjunturas, simplesmente não suportariam isso. 

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É meio "foi o que foi, foi o que foi possível". 

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Hoje também imagino estar fazendo o possível.

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Será?

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